David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Posts Tagged ‘Transformação

John Joseph: “Se uma dieta baseada em vegetais funcionou para mim, ela funciona para qualquer um”

leave a comment »

Como o vocalista da lendária banda nova-iorquina Cro-Mags tornou-se um atleta vegano

jjoseph-vice

Mudança de atitude de John Joseph foi uma consequência da sua dieta vegetariana estrita (Foto: Vice)

Vocalista da lendária banda de crossover Cro-Mags, pioneira na fusão do hardcore punk com o thrash metal, e uma das mais importantes da história do cenário hardcore de Nova York, John Joseph publicou em 2014 o livro “Meat is for Pussies: A How-To Guide for Dudes Who Want to Get Fit, Kick Ass…”. Embora o título possa parecer bobo, cômico ou provocativo, o conteúdo merece muita atenção.

“É um olhar sobre a perspectiva de que o homem ‘precisa’ de carne para ser varonil e forte”, explica o também escritor e atleta vegano. Na primeira parte do livro, John Joseph apresenta fatos e faz críticas aos horrores envolvendo a exploração animal e os processos de produção de carne.

Depois de falar das fazendas industriais, ele guia o leitor a um capítulo em que discorre sobre um estilo de vida mais feliz, saudável e muito mais humano. Ou seja, um estilo de vida vegano. Na obra, ele dá dicas sobre culinária livre de crueldade contra animais. Em síntese, “Meat is for Pussies”, ignorem o título jocoso, é uma obra em que Joseph desafia positivamente os leitores a mudarem de vida.

“Muitos dos caras que perguntam de onde consigo minhas proteínas estão acima do peso, precisam de pílulas para ereção e levam uma hora no banheiro para se livrarem das carcaças podres que estão em seus cólons”, diz.

Uma das figuras mais famosas do cenário hardcore punk dos Estados Unidos, John Joseph tem usado a sua popularidade para atrair pessoas para o veganismo, divulgando principalmente os benefícios de uma alimentação vegetariana aliada a um bom condicionamento.

“Aprendi sobre a PMA [atitude mental positiva] quando a banda punk rastafári Bad Brains me deu um trabalho como roadie deles em 1981. A primeira parte do processo era abandonar carnes, ovos, laticínios, comida processada e drogas”, confidenciou em entrevista à Deni Kirkova, do tabloide britânico Metro em 21 de agosto de 2015.

Segundo Joseph, a sua mudança de atitude foi uma consequência da sua dieta vegetariana estrita, um catalizador em sua vida. “As cortinas caíram, por assim dizer. Absorvi o conhecimento como se eu fosse uma esponja. Fiquei sóbrio, comecei a praticar ioga, meditação, artes marciais, ciclismo, natação de águas abertas e corrida”, revelou.

johnjosephsm

Joseph: “Se você me dissesse em 1980 que um dia eu seguiria uma dieta vegetariana, eu daria risada em sua cara”

O novo estilo de vida também garantiu mais energia para tocar com o Cro-Mags e um bom desempenho no Ironman Triathlon, competição de resistência que exige que os atletas completem quase quatro quilômetros de natação, 180 quilômetros de pedaladas e mais de 42 quilômetros de corrida. E tudo isso exige muito treinamento e uma boa dieta. Em 25 de setembro de 2015, a Vice publicou uma matéria baseada na rotina de John Joseph em sua preparação para o Ironman, e se surpreendeu com a força de um homem que só consome alimentos de origem vegetal.

“Se você me dissesse em 1980 que um dia eu seguiria uma dieta vegetariana, e mandaria ver no IronMan, eu provavelmente daria risada em sua cara. Meu passado em Nova York foi duro, realmente duro”, explicou a Deni Kirkova. Mesmo quando sua rotina ficou atribulada por causa das turnês com bandas como Motörhead, Bad Brains, Megadeth e GBH, Joseph continuou cumprindo seu papel como vegano, sem qualquer deslize. Com o Cro-Mags, ele gravou entre os anos de 1986 e 1993 os álbuns “Age of Quarrel”, considerado um dos discos mais influentes da história do hardcore punk, “Alpha Omega” e “Near Death Experience”.

O escritor e atleta vegano já recebeu milhares de e-mails, mensagens no Facebook, Instagram e Twitter de pessoas dizendo que leram seu livro e mudaram de vida por causa do conteúdo e do seu estilo de escrever. “Eles gostam porque dizem que foi escrito na linguagem deles”, justifica.

Quem não conhece a história de John Joseph, jamais imaginaria que ele foi um sem teto viciado em álcool e drogas. Em 1969, aos sete anos, ele foi obrigado a abandonar um lar violento. Viveu em vários orfanatos e em mais lares abusivos. Sem perspectiva de futuro, passou o ano de 1988 consumindo crack.

Na mesma época, levou um tiro, foi esfaqueado e chegou a ser preso. Hoje, com 54 anos, ele continua atuando como vocalista e tornou-se um atleta vegano com desempenho exemplar em cinco edições do Ironman. E ele atribui a sua história de superação ao seu estilo de vida vegano, que não admite a exploração de animais e considera prejudicial à saúde o consumo de alimentos de origem animal.

“As pessoas são bombardeadas por comerciais de fast food barato, e ingerem comidas que não só causam estragos ao seu sistema como ao planeta por causa do abate de animais”, lamentou em entrevista ao jornal The Examiner, da Austrália, e repercutida pelo Exclaim, do Canadá, em 7 de outubro de 2009.

Saiba Mais

John Joseph, que nasceu em Nova York em 3 de outubro de 1962, se tornou vegetariano há mais de 30 anos.

Referências

Vegan rockstar and athlete John Joseph on why ‘meat is for pussies’

https://munchies.vice.com/en/videos/fuel-the-vegan-ironman-diet-of-cro-mags-john-joseph

http://exclaim.ca/music/article/cro-mags_john_joseph_declares_meat_is_for_pussies_with_new_book_begins_work_on_reality_show

Quando me tornei vegetariano…

leave a comment »

Arte: Vegan Solution

Não posso admitir que o meu paladar seja mais importante do que a preservação da vida animal (Arte: Vegan Solution)

Quando me tornei vegetariano, não tomei tal decisão pela minha saúde. Na realidade, cheguei a um momento da minha vida em que comecei a me sentir desconfortável consumindo alimentos de origem animal. Foi uma transformação natural, de dentro para fora. Eu nem mesmo tinha assistido qualquer documentário sobre o assunto. Comecei a pesquisar depois. Como pratico atividades físicas há muitos anos, tem quem associe isso à saúde, mas não, não tem nada a ver. Considero sim a dieta vegetariana bem saudável e percebi inúmeros benefícios. Ainda assim, esta não foi a minha motivação.

Levando em conta quem sou hoje, mais do que nunca, não posso admitir que o meu paladar seja mais importante do que a preservação da vida animal. Para mim, o especismo se tornou incômodo e isso veio num crescendo até que eu abdicasse completamente do consumo de alimentos de origem animal. Como sempre tive cães e gatos em casa, acho injusto da minha parte me alimentar de outro animal que esteja sobre a minha mesa mais por uma questão cultural do que essencial. Devo dizer que minha própria autoavaliação quanto ao meu papel como ser vivo, reforçada por algumas experiências, me influenciou muito.

Sim, escrevo sobre vegetarianismo e veganismo, até porque sou jornalista e gosto de escrever sobre tudo que me agrada. Mas meus artigos são fundamentados em pesquisas, com o propósito de lançar luz ao que pouca gente sabe a respeito do assunto. Tanto que decidi relacionar mais o vegetarianismo e o veganismo com a literatura, o que acaba por ser um exercício jornalístico. E meus contos sobre o assunto abordam basicamente o respeito e o direito à vida independente de espécie. Não tenho a menor intenção em obrigar alguém a ser vegetariano. Vocês jamais vão me ver “batendo boca” por causa disso.

Quando uma pessoa demonstra não ter o menor interesse, por que eu iria forçá-la a ler sobre o assunto? Minhas palavras sobre o tema são direcionadas a quem os recebe de bom grado, sem se armar. Sou um sujeito extremamente tranquilo quanto a isso. Em qualquer lugar onde vou, só converso sobre vegetarianismo e veganismo se o assunto surgir naturalmente, se eu for chamado para falar disso ou se me fizerem perguntas. Este é o tipo de pessoa que sou.

Written by David Arioch

setembro 11, 2016 at 11:33 pm

Uma transformação interna e natural

leave a comment »

36b3a8_eb24cc67e7554b2aab5af0fd7aeb6cc5

Até então, eu não tinha lido nada sobre veganismo ou vegetarianismo (Foto: Reprodução)

Esses dias, notei uma coisa. De certa forma, quase tudo que escrevo gira em torno da sensibilidade, da compreensão, da tolerância e da igualdade – ou seja, do crescimento moral, ético e humano em algum nível. E isso tem muito a ver com o veganismo. Mesmo quando eu ainda não tinha abraçado esse estilo de vida, eu o abordava sem perceber. Fiz isso por muitos anos. E no ano passado, de repente, perdi o interesse em comer carne. Não, eu não tinha lido nada sobre vegetarianismo ou veganismo, só ouvia falar vagamente a respeito. Nem mesmo tinha assistido qualquer documentário sobre o assunto.

Foi uma transformação interna e natural, até eu parar completamente de consumir alimentos e produtos de origem animal. Claro que hoje me aprofundo mais no assunto, até porque sempre fui desse jeito. Quando me interesso por algo, aquilo torna-se parte de mim. Mas ainda assim é surpreendente. Há transformações na vida que acontecem naturalmente, como um tipo de chamado. Pelo menos eu interpreto assim. E também acredito que agora me sinto mais livre e mais honesto para continuar escrevendo sobre temas que me acompanham desde a infância, mesmo sendo um ser humano extremamente falho, o que também não me envergonho em dizer.

A negação do passado não é um caminho saudável

leave a comment »

250px-Parana_in_Brazil.svg

O Paraná tem uma história de colonização extremamente violenta (Foto: Reprodução)

Não entendo o que leva as pessoas a negarem a história de violência do lugar onde vivem. A partir do momento que você nega esse passado, você está automaticamente legitimando que tudo é o que é porque deveria ser assim. Ou seja, no meu entendimento isso é tanto uma forma de resignação quanto de preservação de um status quo.

O Paraná tem uma história de colonização extremamente violenta e sempre que alguém tenta negar isso de algum modo tenho a impressão de que não estamos falando do mesmo estado. Pesquiso sobre a história regional há apenas sete anos, mas é algo que não posso deixar de dizer que me causa um grande estranhamento.

Abordar o que aconteceu de ruim no passado não tem nada a ver com reverberar coisas negativas, despertar sentimentos ruins, muito pelo contrário. Acredito verdadeiramente que isso é uma forma de luta, de incitação à transformação através da reflexão.

Written by David Arioch

junho 14, 2016 at 6:55 pm

Como trocar a faca pelo garfo

leave a comment »

Documentário mostra como a dieta vegetariana tem transformado vidas

Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, Forks Over Knives segue na mesma linha de documentários como Super Size Me (Arte: Divulgação)

Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, Forks Over Knives surpreende pela riqueza de informações (Arte: Divulgação)

Lançado em 2011, Forks Over Knives, conhecido no Brasil como Troque a Faca pelo Garfo, é um documentário contundente e muito bem embasado, produzido pelo jornalista estadunidense Lee Fulkerson. Na obra, o espectador é convidado a conhecer as grandes transformações que uma dieta vegetariana proporcionou na vida de muitas pessoas com doenças graves, algumas até mesmo desenganadas pelos médicos. E mais, mostra como a indústria de produtos de origem animal é capaz de manipular a política a seu favor, atribuindo a esses alimentos qualidades que fazem a população acreditar que eles são insubstituíveis, quando na realidade não são.

Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, inspirado em Hipócrates, Forks Over Knives segue na mesma linha intimista de documentários como Super Size Me, de 2004, ou seja, um filme em que o realizador participa como personagem. Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde em decorrência de seus maus hábitos alimentares. Como muitos ocidentais, tem uma alimentação rica em produtos industrializados – principalmente carboidratos ruins, carnes e laticínios.

Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde

Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde (Foto: Divulgação)

Com o iminente risco de contrair doença arterial coronariana, o jornalista aceita o desafio de participar de um programa de reeducação alimentar baseado em uma dieta vegetariana. Em um mês, ele começa a perceber mudanças positivas. O mesmo acontece com muitas outras pessoas que participam do desafio proposto por profissionais como o cientista e bioquímico P.H.D. em nutrição T. Colin Campbell, o cardiologista Caldwell Esselstyn e o médico John McDougall, profissionais que se tornaram grandes autoridades do assunto nos Estados Unidos.

Para endossar os benefícios da dieta vegetariana, o documentário apresenta pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Ásia, trazendo informações alarmantes sobre a relação entre doenças e o grande consumo de carne e laticínios. Talvez um dos casos mais emblemáticos dos benefícios da dieta vegetariana seja o de uma atleta que após os 40 anos descobriu que tinha câncer de mama estado em avançado, atingindo os ossos e os pulmões.

Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa (Foto: Divulgação)

Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa (Foto: Divulgação)

Sem se deixar abater, ela adotou a dieta vegetariana e continuou praticando atividades físicas com a mesma intensidade, até que o câncer desapareceu, sem recidiva mesmo após décadas. Outros grandes exemplos são de homens e mulheres que se livraram do diabetes e de outras doenças que exigiam consumo regular de medicamentos. E tudo isso porque encontraram na dieta vegetariana a quantidade necessária de macro e micronutrientes que precisavam para ter uma vida realmente saudável.

Questionado sobre a deficiência de proteínas na alimentação vegetariana, Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa. A economia gerada pelo não consumo de produtos industrializados, carboidratos de baixa qualidade, carnes e laticínios também é outro ponto a se considerar, já que quem segue esse tipo de dieta acaba investindo em mais diversidade de alta qualidade.

Como trocar a faca pelo garfo - 04

Esselstyn, um cardiologista que acredita que a alimentação vegetariana é mais poderosa que qualquer remédio (Foto: Divulgação)

Forks Over Knives desvela que a chamada dieta ocidental, rica em carboidratos ruins e grandes quantidades de carnes e lácteos também invadiu a Ásia no período pós-moderno. Enquanto as populações das pequenas cidades e vilarejos preservavam os mesmos hábitos por gerações, os moradores dos grandes centros urbanos foram seduzidos pela praticidade do fast food e pelos excessos no consumo de carne e laticínios.

Através de pesquisa, T. Colin Campbell e outros pesquisadores descobriram que muitos chineses que seguiam uma dieta vegetariana continuavam totalmente saudáveis após os 90 anos. Surpreendente também é o depoimento do homem que possuía 27 problemas de saúde e após adotar o vegetarianismo conseguiu eliminar 26.

O triatleta Rip Esselstyn, inspirado pelo pai, mudou a vida dos bombeiros de um batalhão do Texas depois que entrou para a corporação. E tudo isso sem qualquer imposição, somente mostrando os benefícios práticos do vegetarianismo na vida de colegas de trabalho com altos níveis de mau colesterol. Logo todos concordaram com a inclusão de um cardápio vegetariano. Outros atletas, incluindo um boxeador, também dão depoimentos endossando os benefícios desse estilo de vida. Citam melhor rendimento, melhor recuperação, mais disposição e refutam a afirmação de que há deficiência proteica na alimentação.

Revelador também é o fato de que T. Colin Campbell perdeu espaço em uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos por causa do seu posicionamento. A instituição sofreu pressão de uma multinacional do ramo de laticínios e eles optaram por dispensar o cientista. A falácia de que o leite é o alimento mais rico em cálcio é apontada por Campbell como um fator cultural que atravessa décadas e justamente porque as grandes indústrias tiveram sucesso em disseminá-la.

Forks Over Knives prova que direta ou indiretamente os maiores produtores de carnes e lácteos controlam até mesmo o que a população consome nas escolas, em repartições públicas e nas empresas. Ou seja, a influência da indústria é tão grande que foi legitimada como se fosse uma prática aceitável, em prol de um bem maior.

Política e desconforto

leave a comment »

Pintura "Doubt", de Ralph McDonald

Pintura “Doubt”, de Ralph McDonald

Um grande problema que percebo hoje em dia é a dificuldade de muitas pessoas em aceitar que alguém não se sinta confortável em apoiar a qualquer custo nenhuma ideologia política, ainda mais levando em conta o nosso mais do que híbrido cenário atual.

A partir do momento que você defende cegamente qualquer lado, seja de situação ou oposição, você está deixando claro que não reprova nem mesmo falhas excruciantes. E isto é um grande problema de algumas formas de militância da atualidade, a incapacidade em reconhecer erros.

E vejo muito desse “maniqueísmo ideológico e político” na internet. Existe uma unilateralidade visceral de raciocínio. Tenho opinião formada sobre algumas coisas, mas elas podem e em certas circunstâncias até devem ser mutáveis.

Written by David Arioch

maio 23, 2016 at 11:53 pm

Doações transformam residência de casal na Vila Alta

leave a comment »

013-horz

Antes e depois na casa do Seu Juvenal e da Dona Neide (Fotos: David Arioch)

Hoje de manhã, fui até a casa do Seu Juvenal e da Dona Neide, o casal de idosos da Vila Alta, na periferia de Paranavaí, que vivia em uma residência com telhado deteriorado e sem forro, por onde a água entrava sempre que chovia, molhando inclusive móveis e outros pertences.

Depois de receber doações de medicamentos, cestas básicas e um telhado novo, dentre outras contribuições, esta semana foi concluída a última etapa – a instalação do forro. Mais uma vez e com humildade singular, Seu Juvenal e Dona Neide demonstraram muita gratidão.

“Nem parece mais a nossa antiga casa. Ficou muito diferente. Até hoje a gente se emociona quando lembra como as pessoas se uniram para nos ajudar. É um grande presente. E alguns continuam nos visitando. Ontem choveu e pela primeira vez a gente nem escutou o barulho da chuva que caiu sobre o telhado. Antes dava muito medo”, declararam.

Aproveito também para agradecer a equipe da J & M Decorações que fez a instalação do forro e foi muito colaborativa em todo o processo, inclusive reorganizou o quarto do Seu Juvenal e da Dona Neide. Ou seja, os funcionários foram além da função deles. “Uma equipe maravilhosa!”, enfatizaram.

Written by David Arioch

maio 21, 2016 at 3:25 pm

A primeira etapa da recuperação de Jessé Piedade

leave a comment »

Ex-morador de rua começa sua trajetória para se livrar do alcoolismo

01

Jessé se comprometeu em mudar de vida (Foto: Guimarães Junior)

Demoramos um pouco para achar hoje de manhã a Casa da Misericórdia, em Apucarana, no Norte do Paraná, onde o ex-morador de rua Jessé Piedade começou uma nova trajetória para se livrar do alcoolismo. Inclusive penso até em escrever uma crônica sobre a aventura até encontrarmos o lugar certo. No mais, a viagem foi tranquila. Chegando lá, nos surpreendemos. A Casa da Misericórdia me parece um santuário, inclusive em muitos momentos me recordei do livro homônimo de William Faulkner sobre a face bucólica do cenário rural do Sul dos Estados Unidos.

Ao lado da rodovia, à esquerda, na saída de Apucarana para Curitiba, atravessamos um elevado trilho de trem, onde um sinal verde permitia a nossa passagem, mas não uma visão clara do que estava por vir. Ainda assim continuamos descendo, sem qualquer certeza de que finalmente encontraríamos por aquelas bandas a Casa da Misericórdia. Depois de percorrer quilômetros de um cascalho misturado a pedregulhos, observamos em meio a um cenário campestre, muito bem arborizado, por onde despontavam araucárias de proporções colossais, algumas edificações brancas como neve.

Subimos por uma estradinha ladeada por uma lagoa, passamos por uma ponte de madeira, um pomar e uma horta. Logo vimos muitos homens nos observando nos mais diversos pontos da casa de recuperação. Havia desde jovens a idosos – papeando, lendo, literalmente pastoreando ovelhas e curiosos para saber quem chegava.

Descemos do carro, cumprimentei os que nos observavam, e alguns metros acima fiquei admirado com a maneira como a vegetação nativa envolve a Casa da Misericórdia, reafirmando sua condição de santuário. Lá, onde parece impenetrável o sol escaldante, a realidade urbana chega a ser desinteressante, ofuscada por um frescor amarante. Mais ao alto, notei uma igrejinha de moldes clássicos, onde um senhor barbudo de mais de 60 anos se inclinava sobre um violão e dedilhava as cordas, atraindo um pouco de atenção e sorrisos.

Me aproximei do lugar mais movimentado da casa e perguntei se alguém poderia me dizer onde encontro Henrique, diretor da Casa da Misericórdia. “Ah, o Henrique saiu, mas ele me avisou que você viria. Já está tudo certo”, disse Canarinho sorrindo, um ex-alcoólatra que abandonou o vício há anos e hoje ajuda na coordenação da casa. Apresentei Jessé Piedade e falei um pouco de sua história. Canarinho o motivou, mas deixou claro que a recuperação vai depender da própria força de vontade de Jessé.

“Aqui a gente não segura ninguém. A pessoa tem que gostar de estar aqui. Eu, por exemplo, moro aqui há mais de três anos. Não quis mais partir. Agora quando a pessoa desiste do tratamento, o que fazemos é avisar quem o trouxe aqui”, garante num tom de voz cordial e sincero.

Jessé deixou claro que entendeu o recado e comentou que se identificou muito com o lugar, praticamente um pedaço de paraíso onde a fragilidade pode ser substituída por força e segurança. Lá, também encontramos Everton Luiz Rodrigues, um rapaz que já conhecíamos. Artista de rua e sem residência fixa, ele está passando uma temporada na Casa da Misericórdia enquanto aguarda um novo chamado da direção do Hospital Regional João de Freitas, de Arapongas, onde faz tratamento cardíaco.

Pouco tempo depois, Henrique chegou, me apresentei e repeti a história de vida de Jessé Piedade. Quando falei da cobra chamada Sogra, com quem Jessé circulava pelas ruas de Paranavaí, o diretor da Casa da Misericórdia achou graça. Em seguida, declarou que ficou feliz em recebê-lo e deixou claro que agora os bons resultados vão depender do recém-chegado.

Ao sairmos do local, percebemos um certo pesar de Jessé, já preocupado com a chegada de visitas. Entretanto, ele admitiu que vai lutar para provar que a vontade de renascer é maior do que o destemor de morrer. Confortante também foi ver de longe, quando descíamos pela mesma estradinha que nos trouxe, Jessé rindo, conversando com Everton Luiz. Agora o ex-morador de rua tem mais um amigo e um motivo a mais para se sentir feliz na nova casa.

Saiba Mais

Jessé Piedade é bem conhecido em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, onde há alguns anos se tornou morador de rua em decorrência do alcoolismo.

As verdadeiras academias estão morrendo

with 4 comments

O treinador Rob King fala sobre o fim dos bons ginásios e a expansão dos “centros de fitness”

King: "“O que é vendido hoje como novo e fresco, acredite, já foi feito antes."

Rob King: “O que é vendido como novo e fresco, acredite, já foi feito antes.” (Foto: Acervo Pessoal)

O treinador Rob King, 40, é um apaixonado por musculação que fundou há alguns anos a Heavyweights Training Center e a Heavyweights Sports Supplements em Mount Pearl, na província de Newfoundland and Labrador, no Canadá. Com a experiência de quem acompanha a expansão mundial da cultura fitness, King afirma que as verdadeiras academias estão morrendo e vê com preocupação o crescimento desenfreado dos chamados “centros de fitness”. Segundo ele, na atualidade, muitas academias vendem mais ilusões do que resultados.

“O que é vendido como novo e fresco, acredite, já foi feito antes. Não existe nenhuma novidade. É o que podemos chamar de falsas reinvenções”, afirma. Rob King ingressou no mundo da musculação há 25 anos. Quando colocou os pés pela primeira vez em uma academia, logo se sentiu intimidado pela atmosfera do ambiente. “Imagine você, eu era um skatista de 15 anos que praticava artes marciais em frente de casa. Queria muito levantar pesos, mas tinha medo de entrar em uma sala de musculação”, diz.

Apesar do receio, o canadense encarou o desafio. Ainda considera o primeiro dia de treino como uma das experiências mais assustadoras de sua vida. “Quando entrei, vi um sujeito de cara fechada que mais parecia um guerreiro. Ele estava levantando pouco mais de 100 quilos no supino reto. Pra mim, parecia que eram mais de 400”, conta.

O temor se dissipou quando Rob se tornou parte de um grupo de marombeiros que treinava diariamente após às 18h. À época, o ginásio não tinha máquinas, com exceção de alguns rústicos aparelhos com cabos. “Quase tudo se resumia a barras, halteres e uma barra fixa. Muitos dos equipamentos pareciam caseiros. Na verdade, acho que eram”, destaca. Não havia esteiras na academia de King. Mesmo assim, ninguém sentia falta. Alguns nem sabiam o que era. Quando surgiram as primeiras, a surpresa foi geral. “Era um negócio enorme, gigante. Agora percebo como estou ficando velho”, comenta em tom bem humorado.

King: "Defendemos que quanto menor o número de pessoas agindo como hamsters em uma esteira, melhor!"

“Defendemos que quanto menor o número de pessoas agindo como hamsters em uma esteira, melhor!” (Foto: Acervo Pessoal)

“As pessoas estão preocupadas em sentir dor”

Quando pondera sobre a realidade atual das academias, lamenta o fato de que o comprometimento com os resultados foi deixado de lado. “As academias de hoje não são ginásios, mas sim ‘centros de fitness’”. As pessoas estão mais preocupadas com a possibilidade de sentirem dor ou ficarem com as mãos calejadas. Até transpirar parece exagerado, o que diriam então sobre fazer ruídos ou deixar os pesos caírem?”, questiona, lembrando que já viu marombeiros serem repreendidos por levarem pó de giz para algumas academias.

A expansão dos “centros de fitness” é definida por Rob King como um fenômeno mundial que pode piorar um pouco mais. E a culpa disso são daqueles que encaram a musculação como um sacrifício, atividade banal, ocasional ou meramente recreativa. Afinal, se esse é o pensamento de quem busca uma academia, com certeza, muitos proprietários vão se aproveitar disso para oferecer um serviço de baixa ou péssima qualidade. “Temos academias ruins porque há clientes que buscam isso. Se muitos dos frequentadores fossem conscientes, bem informados e tivessem bons objetivos, pode acreditar que muita gente pensaria duas vezes antes de se tornar instrutor ou abrir uma academia”, dispara.

“Defendemos o conceito Warehouse Gym

Por outro lado, Rob King tem fé que no futuro o mundo da musculação seja mais direcionado ao básico. “Não vejo razão para abrir mão daquilo que sempre funcionou muito bem. Aqui na América do Norte, estamos divulgando o máximo possível o conceito Warehouse Gym que se pauta no uso de halteres, trenós, cordas e correntes. Defendemos que quanto menor o número de pessoas agindo como hamsters em uma esteira, melhor!”, destaca.

Transformação recente de um dos alunos do canadense (Fotos: Rob King)

Transformação recente de um dos alunos do canadense (Fotos: Rob King)

O mais curioso é que na América do Norte o retorno ao básico encontrou uma grande base de defesa entre pessoas que não são atletas, mas amam treinar. “A diferença está sendo feita por gente que nas horas vagas se dedica ao treino duro e pesado. Propagamos a ideia de que não são necessários muitos equipamentos para proporcionar bons resultados”, conta.

Quando Rob King decidiu fundar a sua primeira academia, ele alugou um pequeno salão. À época, tinha apenas uma gaiola de agachamento, um pneu grande, algumas cordas e modestos equipamentos de pequeno porte. “O que não me faltava era a capacidade de criar, me divertir e me desafiar”, explica, acrescentando que nunca se preocupou em comprar aparelhos aeróbicos.

O interesse pela musculação levou o treinador a participar de competições de bodybuilding e powerlifting. “Comecei aprendendo e continuo aprendendo. Viajo muito e invisto na minha educação. Estou sempre em contato com os melhores do ramo. O conhecimento constante é essencial para quem quer ajudar as pessoas”, garante.

"Ingressei no ramo com apenas 200 dólares em suplementos" (Foto: Acervo Pessoal)

“Ingressei no ramo com apenas 200 dólares em suplementos.” (Foto: Acervo Pessoal)

“Odeio ver tanta gente sendo enganada”

Segundo o treinador canadense, é animador ver o aumento da popularidade da cultura fitness nos últimos anos. Afinal, isso mostra que há muita gente querendo entrar em forma. Em contraponto, o interesse também fez surgir novas e grandes empresas que priorizam o lucro. “Não me entenda mal, sou totalmente a favor do fitness, mas vejo que estamos sendo engolidos pelas ‘big boxes’ ou o que chamo de walmart das academias”, reclama.

Exercícios incoerentes, uma infinidade de máquinas, atividades aeróbicas em que a pessoa não sai do lugar e treinos repetitivos por longos períodos são algumas das características dos “centros de fitness”, na perspectiva de King. “Por incrível que pareça, tudo isso me deu mais fôlego para tentar fazer a diferença. Odeio ver tanta gente sendo enganada por essas bobagens”, desabafa.

"Estamos sendo engolidos pelas ‘big boxes’ ou o que chamo de walmart das academias" (Foto: Acervo Pessoal)

“Estamos sendo engolidos pelas ‘big boxes’ ou o que chamo de walmart das academias.” (Foto: Acervo Pessoal)

“Jurei a mim mesmo que me superaria”

Na adolescência, com uma precoce obsessão por músculos, Rob se inspirou em Arnold Schwarzenegger, após ser hipnotizado pela interpretação do ex-bodybuilder no filme “Conan, O Bárbaro”, de 1982. Quando não podia ir ao ginásio treinar, corria para o quarto do irmão, onde se exercitava com um par de velhos halteres de concreto. Depois, começou a ler tudo que encontrava sobre musculação, até que surgiu a oportunidade de trabalhar na área administrativa de uma academia. Cansado de ficar atrás de uma mesa, se graduou e se tornou treinador.

“No meu quarto, eu tinha uma prateleira com 200 dólares em suplementos. E foi assim que ingressei no ramo de vendas. Anotava tudo que comercializava em uma caderneta. Mais tarde, me mudei para Vancouver e percebi que estava infeliz”, ressalta. O próximo passo foi voltar para a casa do pai e abrir uma loja de suplementos. Sem dinheiro e sem orientação, se arriscou. Dividia o tempo entre a recém-aberta Heavyweights Sports Supplements e o trabalho de treinador em uma academia.

King quando conheceu Arnold Schwarzenegger em 1999 (Foto: Acervo Pessoal)

King quando conheceu Arnold Schwarzenegger em 1999 (Foto: Acervo Pessoal)

“Jurei a mim mesmo que me superaria, que faria de tudo para transformar a vida de muita gente. Me comprometi em torná-los mais fortes e saudáveis. Encontrei a minha verdadeira paixão e nunca olhei para trás”, confidencia. Hoje, King tem o próprio ginásio, uma boa equipe e se orgulha de ter mudado a vida de milhares de pessoas. Além de treinador e empresário, também é palestrante e autor de mais de dez livros sobre fitness, saúde e qualidade de vida.

O encontro com Arnold Schwarzenegger

Em 1999, Rob King usou todas as economias para viajar para Columbus, em Ohio, nos Estados Unidos. Naquele ano em que o grande vitorioso foi o lendário bodybuilder alemão Nasser El Sonbaty, o objetivo de King era conversar com Arnold Schwarzenegger no Arnold Classic. “Foi a melhor experiência que tive aos 25 anos. Sem dúvida, mais um sonho realizado”, enfatiza.

Saiba Mais

Rob King é colaborador dos sites T-Nation, EliteFTS, Schwarzenegger, JasonFerrugia, BretContreas, PTPower, KickBackLife, Super-Trainer, DeanSomerset, InsideFitnessMag, ExerciseForInjuries, FixingMuscleImbalances, FitProInferno e da revista Muscle-Insider.

Dicas de Rob King para quem sonha em abrir uma academia

Você não precisa de muitas esteiras

Você não precisa da aprovação de ninguém

Você não precisa ter um ginásio crossfit

Você não precisa de um ginásio grande

Você precisa gostar de ajudar os outros

Você precisa ter uma mente aberta

Você precisa ter uma fome constante de melhorias

Você precisa querer fazer a diferença

Entenda, todas as grandes coisas começaram como pequenas

Comece agora!