1949: Refugiados aterrissam em Paranavaí
População ajudou a evitar tragédia com tripulação norte-americana e passageiros mongóis
No dia 23 de novembro de 1949, a população de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, ajudou a evitar um acidente ao facilitar a aterrissagem de um avião da Transocean Airlines. A aeronave de grandes proporções transportava nômades mongóis, refugiados do regime comunista sob influência soviética e chinesa, e tinha como destino a cidade de Assunção, no Paraguai.
Estava anoitecendo quando alguns moradores olharam para o céu e viram um avião circulando. “Provavelmente o piloto viu as luzes da cidade e ficou rodando até encontrar uma solução. Naquele momento, ele não tinha outro recurso”, conta o médico Otávio Siqueira Neto.
A partir das luzes da aeronave, a população percebeu que estavam com problemas; precisavam de ajuda para encontrar uma pista de pouso. Solidários com a situação dos desconhecidos, os frequentadores do Bar Líder foram os primeiros a tomar uma atitude. “Meu pai Otávio Marques de Siqueira, Hermeto Botelho, Andrelino Rocha, Durvalino Moreira e Luiz Lorenzetti pegaram os poucos automóveis e caminhões que tínhamos na cidade e foram direto para o aeroporto”, lembra Siqueira Neto.
Em menos de dez minutos, todos os veículos contornaram o campo do aeroporto com os faróis ligados. Uma atitude bastante simples que foi determinante para o avião aterrissar em segurança. “Lá de cima, o piloto conseguiu enxergar a pista e depois fazer uma descida perfeita”, avalia o médico.
Em terra firme, o piloto estadunidense informou que teve pouca visibilidade em função do mau tempo. Contudo, enquanto circulou sobre a cidade, a maior preocupação era ficar sem combustível.
Todas as testemunhas consideraram heroica a aterrissagem, ainda mais em uma época que um piloto não contava com seguros recursos aeronáuticos, principalmente se tratando de sinalizações. Era bastante comum uma situação de perigo durante o voo, caso surgisse qualquer imprevisto. “Mas ainda bem que deu tudo certo”, reitera Otávio Siqueira.
Naquele ano, o aeroporto de Paranavaí ainda não possuía uma boa estrutura e a pista se resumia a um gramado ladeado por pastagens. “O Edu Chaves era onde é hoje o Colégio Estadual. Era tudo muito precário. Claro que se comparado com um aeroporto de capital. Já na maior parte das cidades do interior aquele era o padrão”, frisa o pioneiro Ephraim Machado.
O avião que tinha capacidade para 120 passageiros foi comandado por uma tripulação de oito estadunidenses designados a cumprir uma ordem da ONU; levar os 74 passageiros asiáticos para a capital paraguaia, onde receberiam asilo e reconstruiriam suas vidas.
Douglas DC-4 ganhou o céu depois de uma semana
O pioneiro Ephraim Machado ainda lembra como foi difícil se comunicar com os nômades mongóis. “Como nenhum deles falava outro idioma e todo mundo estava curioso, fomos atrás de uma pessoa em Maringá que falava inglês”, enfatiza.
Em 1949, Paranavaí não tinha mais do que 10 mil habitantes, e conforto era uma palavra que ainda não fazia parte da realidade. Por isso, as acomodações para os passageiros tiveram de ser improvisadas. “Não havia hotéis o suficiente na cidade. Como meu pai era o diretor do Hospital do Estado [atual Praça da Xícara], ele resolveu hospedar os passageiros lá mesmo. Minha mãe se responsabilizou pelas refeições deles e tudo o mais”, explica o médico Otávio Siqueira Neto.
Só depois de uma semana, a tripulação, funcionários da Força Aérea Brasileira (FAB) e um grupo de voluntários conseguiram fazer a aeronave levantar voo. “No segundo dia, cheguei de Londrina e fiquei vendo o avião atolado no aeroporto. Nem se movia, mesmo com o combustível cedido pela FAB”, relembra Machado.
Os passageiros tiveram de abandonar o quadrimotor e ir de ônibus até Mandaguari. Precisaram levar todas as bagagens e aguardar a chegada do avião Douglas DC-4. “Naquela cidade, eles tinham um aeroporto melhor, com pista asfáltica. De lá mesmo, decolaram e foram para o Paraguai”, completa o pioneiro Ephraim Machado.
Saiba Mais
Os nômades eram vistos pelo governo mongol como um câncer que corrompia o modelo desenvolvimentista. Por isso, foram perseguidos durante décadas. Milhares foram presos e executados.
O comunismo foi instaurado na Mongólia em 1924.
A Mongólia se resume a planaltos e está situada no interior da Ásia Central, entre a China e a Rússia.
A fama dos mongóis se deve aos seus grandes feitos no século XVII, principalmente o domínio da Eurásia sob liderança do conquistador Genghis Khan.
Os animais nativos da Mongólia, dotados de pele nobre, atraem caçadores do mundo todo.
Written by David Arioch
fevereiro 20, 2009 às 5:07 pm
Publicado em História, Paranavaí, Paraná, Pioneirismo
Tagged with Aeroporto Edu Chaves, Assunção, Bar Líder, Comunismo, Douglas DC-4, Estados Unidos, Mandaguari, mongóis, mongólia, Nômades, Noroeste do Paraná, ONU, Paraguai, Paranavaí, Paraná, quadrimotor, Rússia, Refugiados, Transocean Airlines.
9 Respostas
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David, este seu blog é o mais perfeito e mais útil que eu já conheci em toda a minha reles existência terrena (atual). Muito bom mesmo!
Tem que ser tombado como patrimônio histórico cultural do município.
Parabéns! Cada publicação é um momento de edificante leitura. Já está em “Meus Favoritos” desde a primeira publicação. Um abraço.
Amauri Martineli
fevereiro 20, 2009 at 5:36 pm
Parabens pelas publicacoes,,, estou boquiaberto…
um grande abraço..
Vitor Gardenal
Paranavaí – Pr
Gardenal
março 4, 2009 at 2:01 am
A Secretaria de Educação deveria divulgar seu blog para todos os alunos do municipio! Parabéns David!
abdallah
março 8, 2009 at 1:38 am
Gostei muito da matéria. Eu tinha um tio que foi um dos primeiros pioneiros e enfermeiros de Paranavaí, ele contava essa história, mas sem muitos detalhes. Parabéns, eu nunca pensei que ia ter essa história com tanta veracidade; até copiei e colei em minha pasta. Parabéns mais uma vez por manter essa preciosidade.
Mário Batista da Silva
janeiro 10, 2010 at 3:58 pm
brasileiro en evidencias,, muito bom amei rever as obras e a historia de roberto persil,,sou de paranavai cidade q amo de coracao ,, vivo no paraguay mas na minha adolesencia pasei en paranavai e tive o prazer de conhecer roberto, gostaria de um contato com roberto por email, por favor
celia tristao leite
abril 10, 2010 at 4:23 pm
Excelente contribuição para a história, David. Além de trazer à tona um fato que aqui pela região quase ninguém sabia, o texto é excelente. Parabéns.
Luiz de Carvalho
março 6, 2014 at 12:29 pm
Luiz, muito obrigado. Fico feliz que tenha gostado. Abraço!
David Arioch
março 6, 2014 at 12:38 pm
yara lysenko nasci em londrina meus pais forão morar em paranavai´la me formei e me casei foi minha vI-DA TENHO PARANAVAÍ COMO MINHA CIDADE NATAL , MEU ESPOSO VEIO FALECER POR DESGOSTO FUI P RONDONIA.MEU PADRASTO TINHA O CARTORIO 1oficio NA AVENIDA PARANÁ SENHOR JOSÉ OSVALDO MORAIS DE BARROS,MEU AVÕ ARTHUR GONÇALVES, AMIGO DO SR ESPERIDIÃO DA LIVRARIA AMIGOS DR SIQUEIRA , DR ANTONIO QUE FOI PREFEITO DE PARANAVAÍHOJE ESTOU EM NAVEGANTES SC TENHO SAUDADE DA MINHA CIDADE DO PARANÁ´PARANAVAÍ
yara LYSENKO
novembro 25, 2015 at 10:35 am
Que legal, Yara! Obrigado pela contribuição! Abraço!
David Arioch
novembro 25, 2015 at 11:24 am