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O pioneirismo de um curitibano
Aldo Silva viabilizou a construção do Cemitério Municipal de Paranavaí
O advogado Aldo Silva que chegou a Paranavaí nos anos 1940, além de atuar na promotoria pública, se elegeu vereador por quatro mandatos consecutivos. Como presidente da Câmara Municipal foi o responsável pela viabilização da construção do Cemitério Municipal.
O curitibano Aldo Silva se mudou para Paranavaí em 20 de maio de 1948. Com 34 anos, terminava o mandato como deputado estadual. “Quando cheguei à colônia havia cerca de 300 moradores. Me hospedei na pensão de Artur de Melo, perto da hospedaria do “Seu Rodrigo” [Rodrigo Ayres de Oliveira]. Passei uma noite horrível porque estava muito frio e o vento entrava pelas frestas na parede de pau-a-pique”, relatou Silva em entrevista a estudantes locais nos anos 1970.
Em Paranavaí, Silva logo conheceu diversos personagens que fazem parte do pioneirismo local, como Rodrigo Ayres de Oliveira, Família Palmiano, Zé Peão, José Cândido de Freitas, Manoel Paulino e Ulisses Faria Bandeira. “Este último veio pra cá ainda muito menino”, comentou o advogado que foi transferido a Paranavaí para exercer a função de promotor de justiça, cargo que lhe rendeu boa popularidade, além de estar sempre em contato com a política local.
Não são poucos os que apontam Aldo Silva como uma das pessoas mais influentes da história de Paranavaí. Ainda assim, o advogado jamais se considerou pioneiro. “Não fui um dos desbravadores, mas sim um dos primeiros que vieram para cá quando aqui passou realmente a existir como Paranavaí. Foi um tempo de afluxo muito grande de gente”, destacou, acrescentando que pessoas de vários países e de todos os estados do Brasil fixavam residência na colônia.
Em 1952, Aldo Silva foi eleito vereador e no ano seguinte assumiu como presidente da Câmara Municipal. No dia 16 de novembro de 1953, assinou um decreto que viabilizou a construção do Cemitério Municipal. O bom trabalho desempenhado pelo advogado lhe rendeu a reeleição. Em 1956, o candidato do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) se elegeu com 727 votos. E não parou por aí. Aldo Silva garantiu uma vaga na Câmara de Vereadores até 1968. Foram 16 anos dedicados à política municipal.
As curiosidades do passado
Entre os fatos mais curiosos lembrados pelo pioneiro Aldo Silva está um que envolve o primeiro prédio da administração pública. “O local onde funciona hoje a Prefeitura de Paranavaí já era usado com essa finalidade naquela época, a diferença é que era maior e abrigava todos os serviços públicos, inclusive estaduais”, frisou Aldo Silva, acrescentando que antes o espaço servia como hospedaria.
O vereador conheceu o primeiro advogado de Paranavaí, Dalio Zippin Grinspun, de origem polonesa, que anos depois se mudou para Curitiba. “Era um sujeito que dormia de dia e de noite, em pé, sentado, até conversando com a gente”, disse. Outra personalidade da história local com quem o vereador teve bastante contato foi Oscarlino Carvalho Duarte, apontado como o pioneiro que desbravou a região de Santa Isabel do Ivaí. “Ele foi o primeiro a ter geladeira, fogão, automóvel de luxo e também a construir um sobrado em Paranavaí”, revelou o advogado que em suas viagens pelo Noroeste do Paraná se deparou com fatos inimagináveis.
Nas imediações do Rio Paranapanema, Aldo Silva teve a oportunidade de conhecer o “Ranchão de Zinco”, um local que nos anos 1940 e 1950 ficou conhecido como “cemitério de veículos”. “Lá, havia muitos caminhões e automóveis deteriorados que foram abandonados. Os que vieram pra cá no início, sempre passavam pelo Paranapanema”, justificou. Segundo pioneiros, era comum os migrantes abandonarem veículos nas estradas e jamais retornarem para buscar, então surgiu a iniciativa de remanejá-los para uma área que depois recebeu o nome de “Ranchão de Zinco”. No local, o que surpreendia é que havia automóveis e jipes com a lataria em ótimo estado de conservação.
Saiba Mais
O curitibano Aldo Silva nasceu em 1914 e faleceu no dia 7 de junho de 1977 em Paranavaí.
O curador de animais
Zé Peão, um homem que foi além da medicina veterinária nos anos 1940
José Francisco Siqueira, conhecido como Zé Peão, foi um pioneiro que ganhou fama em Paranavaí nos anos 1940 pelas habilidades em tratar de animais enfermos. O seu talento atraía pessoas de toda a região Norte do Paraná.
Em 1940, Zé Peão deixou a terra natal, Fazenda Floresta Ribeirão Vermelho, depois Bela Vista do Paraíso, no Norte Central Paranaense, e se mudou para a Fazenda Brasileira, atual Paranavaí. A viagem que durou oito dias sempre foi lembrada pelo pioneiro como uma das mais difíceis.
“Naquele tempo, Maringá era quatro casas velhas. Quase o caminho todo só se via céu e mato. Só apareceu um clarão quando cheguei na Brasileira. Vim em busca de fortuna, mas a vida aqui era tão complicada que pensei em voltar pra Bela Vista do Paraíso”, revelou o pioneiro em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.
José Francisco Siqueira recebeu o apelido de Zé Peão porque era um habilidoso criador de gado. Desempenhava também outras atividades como a de produtor de café e de arroz. Siqueira se considerava um “tocador de roça”. “Lembro que quando acabava o querosene tinha que buscar em Arapongas [no Norte Central Paranaense] porque sempre faltava em Mandaguari. A coisa aqui só endireitou depois que o interventor Manoel Ribas morreu”, desabafou.
A atividade que mais rendeu fama a Zé Peão foi a de curador de animais, Nos anos 1940 e 1950, era costume fazendeiros do Paraná e de outros estados o procurarem para cuidar de animais enfermos condenados por médicos veterinários.
Em muitos casos, Zé Peão apenas os observava e já sabia o que deveria ser feito. Segundo pioneiros, era como se Siqueira se comunicasse com os animais e eles lhe falassem qual era o problema, tão grande era a afinidade. O que surpreendia também era o fato de que perto de Zé Peão, os bichos se acalmavam rapidamente. “Parecia que tinha algum tipo de poder sobre eles. Acho que o respeitavam”, comentou o pioneiro João Mariano.
Os animais eram tratados em frente à residência do pioneiro, na Rua Manoel Ribas, onde se situa hoje o imóvel Nº 1072, quase na esquina com a Rua Souza Naves. Lá, Zé Peão fixou diversas argolas no chão, onde os bichos eram amarrados para receber tratamento médico. Nos anos 1980, outras argolas substituíram as antigas, servindo para prender os pneus das motos.