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Paranavaí, uma colonização centenária
A Braviaco começou a desbravar a atual área do Noroeste do Paraná em 1910
A história de Paranavaí teve início em 1910, quando a Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco), de propriedade do jornalista e empresário baiano Geraldo Rocha, começou a desbravar o Noroeste do Paraná, nominando Paranavaí e região como Gleba Pirapó.
Em 1926, o engenheiro agrônomo baiano Joaquim da Rocha Medeiros, funcionário da Braviaco, coordenou a derrubada de uma área para o plantio de 1,2 milhão de cafeeiros. À época, tiveram de criar uma estrada com 110 quilômetros de extensão ligando a Fazenda Ivaí, que se tornaria a Vila Montoya, ao Porto São José, com a finalidade de promover transações comerciais com Guaíra e Porto Mendes, no Oeste Paranaense, e Argentina, para onde o café produzido seria transportado. Pelo mesmo caminho foi enviado todo o equipamento necessário para a viabilização de uma serraria, empreendimento sem o qual jamais seria construída a sede da Fazenda Ivaí, atual zona urbana de Paranavaí.
Joaquim Medeiros viajou a Pirapora, Minas Gerais, em 1927, onde buscou 300 famílias de migrantes para trabalharem no plantio de café. Os levou até Presidente Prudente em um trem especial. Suportaram chuvas torrenciais que perduraram por 40 dias e 40 noites e, para piorar, a estrada estava intransitável. A única ponte que existia, do Rio Santo Anastácio, tinha caído, então tiveram de reconstruí-la assim que parou de chover. O engenheiro e os migrantes chegaram na Fazenda Ivaí uma semana depois. “Só mesmo o nordestino para suportar tanto desconforto”, registrou Medeiros em um diário pessoal.
A década de 1920 é apontada como a mais difícil para os moradores da colônia pelo fato de terem vivido isolados no meio da mata, correndo o risco de serem atacados por animais selvagens. Além disso, o difícil acesso a outras localidades complicava mais ainda a situação. Era preciso percorrer mais de cem quilômetros para encontrar algum povoado. Até mesmo a carne consumida na Fazenda Ivaí vinha de muito longe, era comprada no Mato Grosso do Sul, para onde um encarregado e alguns peões viajavam enfrentando uma série de desventuras para trazer a boiada em um barco a vapor. A viagem durava até semanas. Às vezes era preciso percorrer mais de 500 quilômetros.
Quem cuidava dos negócios de Geraldo Rocha na colônia e em toda a região de Paranavaí era o vice-diretor da Braviaco, o engenheiro agrônomo Landulpho Alves de Almeida, que se tornaria senador e interventor federal da Bahia, cargo que equivalia ao de governador, além de Medeiros e Humberto Alves de Almeida. Irmão de Landulpho Alves, Humberto era o responsável por coordenar o transporte de café e tinha como empregado de confiança o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles, considerado o primeiro cidadão de Paranavaí, homem que se abstinha de falar abertamente sobre o início da colônia.
Em 1928, a Vila Montoya, baseada na monocultura cafeeira, ganhou contornos de cidade. A colônia oferecia tudo que era necessário à sobrevivência dos mais de seis mil moradores. No entanto, o único acesso ao distrito era a estrada do Porto São José, na divisa com o atual Mato Grosso do Sul. Todos que iam para Montoya usavam a mesma via, que servia também para ligar a colônia ao Porto Ceará e a Presidente Prudente, no Oeste Paulista, de acordo com dados do livro “História de Paranavaí”, do escritor Paulo Marcelo Soares Silva.
No passado, pela mesma estrada se chegava à Gleba-1 Ivaí, Piracema e Povoado de Cristo Rei. Quem precisava viajar para outras cidades do Paraná era obrigado a atravessar a divisa com o Estado de São Paulo, embarcar em um trem que percorria a antiga Estrada de Ferro Sorocabana até Ourinhos, e de lá partir para Tibagi, no Centro Oriental Paranaense, a quem a Vila Montoya pertencia. Por muitas vezes o pioneiro Frutuoso Salles fez esse trajeto. Percorria parte do caminho a pé e depois a cavalo até chegar à Sorocabana. Para Salles, que quando se mudou para a região atravessou o Rio Paranapanema a nado, por maiores que fossem as dificuldades da época, nada superava o empenho e a vontade dos migrantes, principalmente nordestinos, de se restabelecerem sob o signo do ouro verde que já despontava no Noroeste Paranaense e amealhava os sonhos de muita gente.
Em 1930, foram trazidas à Velha Brasileira cerca de 1,2 mil famílias de migrantes para trabalharem nas lavouras de café sob regime de colonato. O trabalho foi interrompido inesperadamente um ano depois. Após a Revolução de 1930, o título de propriedade da Gleba Pirapó foi cassado, o que comprometeu o desenvolvimento de Montoya. De acordo com Joaquim da Rocha Medeiros, essa foi a punição do Governo Federal contra a Braviaco, de Geraldo Rocha, que apoiou a candidatura de Júlio Prestes, eleito, mas deposto pelos aliados de Getúlio Vargas.
“Colonos e funcionários da empresa, inclusive eu, tiveram que abandonar Montoya, obrigados a deixar tudo para trás e percorrer a pé, levando família, uma distância de 220 quilômetros”, revelou o engenheiro agrônomo em registro pessoal. Em vez de assegurar o emprego dos milhares de trabalhadores que viviam na Vila Montoya, assumindo a colonização da região ou repassando a concessão a uma nova colonizadora, o Governo Federal preferiu, por questões ideológicas políticas, ignorar toda a problemática socioeconômica que surgiu na colônia.
Em 1932, o tenente-coronel Palmiro, da Polícia Militar do Paraná, e o vice-diretor da Companhia Brasileira de Viação e Comércio, o engenheiro agrônomo Landulpho Alves de Almeida, retornaram a Montoya. De acordo com informações do livro “Pequena História de Paranavaí”, de autoria do juiz de direito Sinval Reis, Palmiro e Almeida se surpreenderam ao ver a colônia desabitada. Se depararam com muitas casas destruídas, completamente queimadas. Restaram poucos moradores, dispersos por vários pontos. “Estavam aqui Frutuoso Joaquim de Salles, José Firmino da Silva, João Clariano, Velho Caboclo, Marins, Velho Roque e mais alguns”, citou o juiz.
Os remanescentes continuaram na fazenda porque não achavam que valeria a pena migrar novamente, reviver as mesmas dificuldades que tiveram quando chegaram ao distrito. Além disso, ainda havia cafeeiros para serem explorados. Os poucos colonos deram continuidade a produção, levando o café para ser comercializada em Presidente Prudente, no Oeste Paulista, conforme já o fazia a Braviaco antes de ter a concessão de terras da colônia revogada. Quem também veio à região em 1932 foi o arrendatário Mario Pereira que construiu em Montoya a residência mais luxuosa do Noroeste Paranaense, criada sob o padrão estético europeu. A mansão também foi consumida pelas chamas. Sobre tais fatos, ao longo de décadas, os pioneiros de Paranavaí levantaram três possíveis suspeitas.
Especula-se que o Governo Vargas, em represália à Braviaco, tenha enviado uma tropa do Exército Brasileiro ao distrito para promover a destruição das residências, além da queima de milhares de pés de café. A segunda hipótese levantada por pioneiros é a de que a própria companhia poderia ter feito isso para se vingar do Governo Federal e também evitar que outros usufruíssem de suas benfeitorias. Já a terceira suspeita diz respeito aos grupos de criminosos que viajavam pelo Oeste Paulista e Norte do Paraná no princípio dos anos 1930, realizando atos de vandalismo, assaltos e saques em colônias pouco povoadas.
Em novembro de 1930, quando Vargas se tornou presidente do Brasil, o Estado do Paraná ainda preservava 87% de vegetação primitiva. O novo Governo Federal tinha grande interesse na quase inabitada Vila Montoya, no Noroeste do Estado, que pertencia a Tibagi. A área então, antes colonizada pela Companhia Brasileira de Viação e Comércio, foi repassada ao jornalista e político gaúcho Lindolfo Collor, um dos participantes da Revolução de 1930, que se tornou o responsável legal pela região de Paranavaí por alguns meses, até que decidiu se afastar do Governo Vargas, tornando-se oposicionista.
Em 8 de abril de 1931, ano em que a extinta Vila Montoya foi nominada como Fazenda Brasileira, o interventor federal do Paraná, o general Mário Tourinho, assinou um decreto retomando as terras da localidade e autorizou o início dos loteamentos. A morosidade para se conseguir um lote fez muitos moradores irem embora para outros povoados, locais onde o acesso era mais fácil e menos burocrático. O ponto positivo é que o decreto afastou muitos colonizadores que exploravam os colonos nordestinos, vistos como mão de obra barata. A informação de que o governo acompanharia de perto tudo que acontecia intimidou muita gente, principalmente os exploradores.
Em 1933, o interventor Manoel Ribas visitou a Fazenda Brasileira para acompanhar de perto a situação da colônia. O acesso ao povoado era muito difícil e se restringia a mesma estrada que findava no Rio Paranapanema. Para facilitar o contato com outras colônias e cidades do Paraná, além de diminuir a influência paulista na localidade, Ribas pediu que o engenheiro civil Francisco Natel de Camargo iniciasse a abertura de outra estrada que começava em Arapongas, no Norte Central do Estado, se estendendo até a antiga Estrada Boiadeira. Entretanto, é válido ressaltar que a colonização da Brasileira só voltou a ser intensificada em 1935, fato que gerou especulações sobre o destino da colônia, pois houve muitas incertezas sobre quais procedimentos seriam adotados pelo governo para o repovoamento.
A década de 1930 entrou para a história de Paranavaí como um período bastante obscuro, marcado por muitos crimes e injustiças. Quem fixava residência na brasileira para trabalhar nas lavouras de café e mais tarde tomava a decisão de ir embora era punido brutalmente. Ingênuo, o migrante insatisfeito ia até o encarregado para quem informava o desejo de partir, então acertava os vencimentos e recolhia os pertences. Enquanto aguardava às margens do Rio Paranapanema a chegada de uma balsa com destino ao Porto Ceará, no Estado de São Paulo, o colono e toda a sua família eram assassinados a tiros por jagunços que trabalhavam para os colonizadores.
Alguns eram mortos às margens do rio. Outros eram abatidos quando estavam de costas, durante a travessia. Segundo relatos de pioneiros, os capangas abriam os corpos das vítimas, extraíam todas as vísceras, enchiam de pedras, costuravam e jogavam no Paranapanema, conhecido pelo enorme cardume de piranhas. Os relatos sobre os crimes praticados contra os colonos impediram que muita gente fosse embora da Fazenda Brasileira. As histórias que disseminavam terror e medo se espalhavam pelo Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Nem mesmo os balseiros do Porto Ceará ousavam se aproximar do povoado, inclusive alertavam todos os passageiros sobre os perigos da Brasileira. Tal experiência foi vivenciada pelo pioneiro paulista Natal Francisco e seu irmão que seguiram a recomendação de um balseiro e deixaram um veículo Ford movido a gasogênio no porto. “Ele disse que perderíamos o veículo se o guiássemos até a Brasileira”, justificou Natal Francisco em entrevista concedida à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás. Após a visita que teve duração de oito dias, Francisco e o irmão estavam retornando ao Porto Ceará quando ouviram o som de um acordeão. Surpresos, mas curiosos, adentraram a mata. Antes que vissem qualquer coisa, uma mulher gritou.
“Pelo amor de Deus, não mata nóis. Tamo fugindo, mas tamo quase morto.” Mesmo assustado, Natal e o irmão ligaram a lanterna para ver se tinha mais alguém ali. O marido da moça estava caído no chão com a roupa rasgada e uma sanfona sobre o peito todo ensanguentado. O casal de colonos enganou os jagunços e fugiu da Fazenda Brasileira. Às margens do Paranapanema improvisaram uma jangada para a navegação. Enquanto isso, alguns capangas chegaram até a beira do rio. De lá, atiraram e acertaram o rapaz. A ambição e a ganância custaram muitas vidas, e não apenas de colonos, mas também de quem era capaz de enfrentar qualquer conflito por questões de posse.
Mesmo com o esvaziamento populacional, a briga por terras acirrou-se. Posseiros trocavam ameaças sem se importar com os transeuntes, o que já dava a ideia de que algo muito ruim viria depois. Quando o Governo do Paraná decidiu intervir dando prazo de 90 dias para os grileiros desocuparem as áreas invadidas, a situação já estava fora de controle. Chegou um momento em que ninguém mais trocava ameaças, simplesmente matava o seu desafeto. À luz do dia não era raro ouvir tiros vindo de várias direções. Cadáveres eram vistos no centro da Brasileira, caídos sobre o solo arenoso. Dependendo da intensidade da corrente de ar a terra cobria superficialmente o morto. Aqueles que não tinham familiares eram deixados onde estavam, abandonados sobre o chão, até começarem a se decompor. Apenas quando o odor da volatização de cadaverina e putrescina começava a tomar conta do ambiente que alguém dava um jeito de se livrar do corpo.
Estima-se que dezenas de pessoas foram assassinadas nesse período, embora seja impossível precisar o total de vítimas, podendo chegar a centenas. Muitos crimes eram ocultados pelos jagunços que se livravam dos cadáveres nas imediações do Porto São José, na Lagoa do Jacaré, confluente do Rio Paraná. Lá, os corpos eram despejados porque os jacarés eliminavam as provas do crime. Em 1936, quando a Fazenda Brasileira já era famosa pela onda de crimes, o Governo Federal exigiu uma medida radical do interventor federal Manoel Ribas. A decisão foi enviar o tenente gaúcho Telmo Ribeiro, famoso por métodos menos ortodoxos de impor ordem. Com o tenente, conhecido como rápido no gatilho, veio um grupo de mercenários paraguaios de Pedro Juan Caballero. Não levaram mais do que alguns meses para dar fim ao clima de faroeste que imperava na Brasileira. Segundo pioneiros, melhoraram a situação, mas também mataram muita gente.
Em 1942, Ulisses Faria Bandeira, funcionário da Inspetoria de Terras do Estado, dirigida por Francisco de Almeida Faria, foi transferido de Londrina à Fazenda Brasileira para demarcar a primeira via da colônia, a Avenida Paraná. O trabalho de Bandeira tinha relação direta com a chegada de migrantes e imigrantes à Brasileira. Aparentemente a demarcação simbolizava o interesse do Governo do Paraná em investir no desenvolvimento do povoado, o que atrairia a atenção de todos que por aqui passavam. A estratégia deu certo, e em setembro de 1943 um grande número de pessoas chegou à fazenda, onde compraram muitos lotes de terras.
Naquele tempo, atrair quem buscava melhores condições de vida era uma tarefa complicada, pois o acesso a Paranavaí era tão precário que nenhum caminhoneiro de Londrina, no Norte Central Paranaense, cidade por onde passavam os muitos migrantes que vieram para cá, aceitava realizar um frete até a Brasileira por menos de 1,5 mil cruzeiros, preço muito elevado se comparado a outros destinos. Ainda assim, muitos insistiam na viagem, pagavam o que fosse necessário para chegarem ao povoado do qual ouviam falar muito bem. Mas como a propaganda sempre supera a realidade, a verdade é que a colônia era bem desorganizada, se resumia a um amontoado de pessoas de diferentes etnias dispersas por todos os lados. “Quando cheguei aqui só a Gleba 1-A tinha sido demarcada, um trabalho do engenheiro Alberto Gineste”, lembrou o pioneiro Ulisses Faria Bandeira em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.
No ano seguinte, o marceneiro curitibano Hugo Doubek estava participando de uma exposição de artes em Curitiba quando conheceu o diretor do Departamento de Geografia, Terras e Colonização (DGTC) do Governo do Paraná, Antonio Batista Ribas. O diretor convidou Doubek para ser o administrador geral da Fazenda Brasileira; o marceneiro aceitou. Hugo Doubek já conhecia a Brasileira, onde trabalhou desmanchando casas em algumas áreas para reconstruí-las em outros pontos. Em 1942, não havia mais casas disponíveis na Brasileira, pois as que restaram da época de Montoya foram desmanchadas e realocadas em outras áreas. Por muitas vezes os colonos pensaram em ir para o mato derrubar árvores para aproveitar a madeira. Porém, ninguém na colônia tinha equipamento e veículo necessário para o serviço. A madeira ainda era trazida de Marialva, até que decidiram construir uma serraria.
O inspetor Ulisses Faria e o administrador da colônia, Hugo Doubek, fizeram o trabalho de demarcação territorial da colônia a pé, tendo como referência a localização de todos os moradores do povoado. “Recebi a ordem para achar toda aquela gente, obedecendo certa metragem que margeava córregos e rios. Foi tudo feito sem condução, e só achei os primeiros colonos a vinte quilômetros da Inspetoria de Terras”, destacou Doubek em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas.
Em 1944, a Gleba 1-A, ocupada principalmente por paulistas, mineiros, cearenses e pernambucanos, já somava 30 quilômetros de estrada que a ligavam à Fazenda Brasileira. Em uma antiga entrevista ao jornalista Saul Bogoni, Bandeira revelou que havia inúmeras colônias em Paranavaí porque muitos pioneiros chegaram antes de 1940, o que foi percebido somente durante o trabalho de campo. A Gleba 2 foi a única área da Brasileira não demarcada por Doubek e Bandeira. Quem se encarregou do trabalho em janeiro de 1944 foram os engenheiros Artur Oliva e Lota Chimoca que percorreram uma área superior a 15 mil alqueires, onde ainda havia muita vegetação primitiva. “A Gleba 2 tinha como ponto de partida a estrada que vai para o Porto São José”, salientou Ulisses Faria que naquele ano tomou a iniciativa de investir no abastecimento de água. Bandeira conseguiu uma bomba com motor a gás para fazer a captação. A ideia beneficiou mais de cem famílias.
Pelo fato da colônia ter surgido sob a égide da cafeicultura, as principais ruas e avenidas foram traçadas visando o escoamento das produções e não o desenvolvimento da cidade. Prova de tal fato é que mesmo com o passar dos anos as vias foram asfaltadas, mas não redimensionadas para atender a demanda advinda com o progresso. Exemplos são as ruas e avenidas estreitas do centro da cidade. As vias dos bairros mais tradicionais de Paranavaí, como o Jardim Ibirapuera, Jardim Iguaçu, Jardim Ouro Branco e região do Colégio Estadual de Paranavaí (CEP), também foram abertas para facilitar o transporte de café, arroz e outras culturas. Paranavaí se ligava ao Porto São José, para onde toda a produção era escoada até outros estados, como Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Embora a colonização da região de Paranavaí ultrapasse os 100 anos, o nome Paranavaí surgiu apenas em 1944, por sugestão do engenheiro Francisco de Almeida Faria que destacou a necessidade de batizar a cidade com nome único. Pouco tempo depois, a partir do neologismo que é uma junção dos Rios Paraná e Ivaí, surgiu a Colônia Paranavaí. Naquele ano o povoado tinha cerca de 500 habitantes, distribuídos por 80 casas feitas de tabuinhas velhas. Os pontos de referência da colônia eram o Hotel da Imigração, que ficava ao lado do Fórum Dr. Sinval Reis, a Inspetoria de Terras, o Hospital Professor João Cândido Ferreira, conhecido como Hospital do Estado, onde se situa a atual Praça da Xícara, e também o primeiro Grupo Escolar. Muitos investidores se interessaram pela região considerada ideal para a cafeicultura em função das grandes áreas de solo virgem. Um dos colonizadores que apostou no progresso do Noroeste do Paraná foi o engenheiro civil Francisco Beltrão, da Sociedade Técnica Engenheiro Beltrão, que começou a comercializar lotes da Colônia Paranavaí em 1946.
O interesse de Beltrão pela região surgiu bem antes, no final da década de 1930, porém, só recebeu o aval do Ministério da Justiça em 14 de dezembro de 1943. Depois ainda teve de aguardar a expedição do título de propriedade liberado pelo Ministério da Agricultura em junho de 1946, segundo informações do livro “História de Paranavaí”, do escritor Paulo Marcelo Soares da Silva. Todos os documentos diziam respeito a compra de 17 mil hectares de terras que até então pertenciam ao governo federal em área próxima às propriedades da Companhia Norte do Paraná. Boa parte das posses do engenheiro na região de Paranavaí se situava em áreas que mais tarde se tornariam o município de Tamboara, Seara, Suruquá e Anhumaí. Na década de 1950 foi a vez de pioneiros como Carlos Antônio Franchello e Enio Pipino, da Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop), apostarem no progresso da região de Paranavaí.
A partir de 1946, a colonização na região de Paranavaí ganhou tanta força que anos depois superou as regiões de Maringá e Umuarama. O que contribuiu para o desenvolvimento local foi o trabalho das colonizadoras de capital privado. Além disso, de acordo com dados do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), a região de Paranavaí somou 90 milhões de pés de café antes do final da década de 1950, uma marca que deu visibilidade nacional ao Noroeste Paranaense. As campanhas publicitárias veiculadas por todo o Brasil, mas principalmente em cidades do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, surtiram tanto efeito que em Paranavaí foram vendidos milhares de imóveis, entre lotes urbanos, chácaras e sítios. Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), isso justificou os 307 mil habitantes da região de Paranavaí em 1960.
Entre os anos de 1940 e 1950 já viviam em Paranavaí, além de migrantes de todas as regiões do Brasil, portugueses, italianos, alemães, poloneses, russos, ucranianos, espanhóis, japoneses, franceses, suíços, húngaros, sírios e libaneses, além de povos de outras etnias. Muitos moradores diziam que Paranavaí tinha tudo para ser a “terceira capital do Paraná”, logo atrás de Curitiba e Londrina. Os habitantes se baseavam no fato de que a região de Maringá somava 237 mil habitantes e a de Umuarama cerca de 253 mil, conforme registros do IBGE. Em 1960, com exceção de Curitiba, se tratando de desenvolvimento, Paranavaí só perdeu para a região de Londrina que chegou aos 600 mil moradores. Paranavaí teve uma evolução exemplar. A cidade era vista como símbolo de progresso no Paraná, uma imagem que ganhou solidez em 1956, quando uma pesquisa da Associação Brasileira dos Municípios apontou Paranavaí como uma das cinco cidades com maior índice de desenvolvimento do país.
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O meu ensaio “Paranavaí, uma colonização centenária” foi premiado em 2011, em Curitiba, no Concurso Estadual de Ensaios, realizado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR), com curadoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, Paulo Marcelo Soares – História de Paranavaí – 1988.
GOEVERT, Ulrico – História e Memórias de Paranavaí – 1992.
FOERST, Alberto; WUNDERLICH, Henrique; LIPPERT, Burcardo; Deckert, Adalberto – As Aventuras de Três Missionários Alemães em Paranavaí – 2011.
BECK, Jacobus – Minha Viagem à Região Missionária de Paranavaí – 1952.
REIS, Sinval – Pequena História de Paranavaí – ?
STECA, Lucinéia Cunha e FLORES, Mariléia Dias – História do Paraná: do século XVI à década de 1950. Editora UEL. Londrina – 2002.
FILHO, José Vicente – As Nossas Histórias – 2005.
Revista Grande Noroeste – edição de dezembro de 1991.
Jornal Diário do Noroeste – edição de 14 de dezembro de 2002.
Pesquisa oral feita com pioneiros de Paranavaí.
Depoimentos do projeto Memória e História de Paranavaí.
Bandeira fez mais do que os primeiros “traçados” de Paranavaí
É importante não transmitir às novas gerações uma ideia errada sobre uma importante figura histórica
Um senhor concedeu uma entrevista para a TV falando sobre o aniversário de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, e disse que o pioneiro Ulisses Faria Bandeira não sabia o que estava fazendo quando criou os primeiros “traçados” do município. Acho no mínimo preocupante você desdenhar o trabalho de uma pessoa como forma de “homenagear” a cidade onde vive. Faria Bandeira não era um sujeito qualquer. Então seria justo ter feito uma ressalva, até para não transmitir às novas gerações uma ideia errada sobre uma figura de suma importância para a história local.
Ulisses era um agrimensor da Inspetoria de Terras do Paraná, nomeado pelo interventor federal Manoel Ribas, função que à época equivalia a de governador. Sim, ele poderia ter ponderado mais sobre o progresso de Paranavaí quando fez os primeiros “traçados”. Não imaginou que de certa forma o seu projeto criado nos anos 1940 teria consequências futuras, “engessando” um pouco o desenvolvimento urbano.
Porém, naquele tempo os prazos para a realização desse tipo de trabalho eram curtos, ou seja, o Governo do Paraná exigia respostas rápidas, até porque, ao contrário de outras cidades da região, Paranavaí foi colonizada pela iniciativa pública, não privada, o que acabava acirrando a concorrência e gerando animosidade com colonizadoras baseadas em capital estrangeiro.
Embora Ulisses Faria Bandeira tenha se precipitado um pouco, foi ele que em parceria com o pioneiro Hugo Doubek chegou a passar semanas longe da então colônia, margeando rios e córregos a pé para fazer a demarcação territorial de Paranavaí. O prestígio do inspetor de terras junto à população era tão grande que Bandeira foi estimulado a disputar as eleições municipais de 18 de novembro de 1956, concorrendo ao cargo de prefeito. Obteve 4071 votos contra 4029 de Herculano Rubim Toledo.
“Foi uma campanha pesada e acirrada”, admitiu no mesmo ano. Ulisses Faria Bandeira conquistou muita popularidade pelo hábito de interagir com os moradores, principalmente nos finais de semana, quando participava de partidas de futebol no antigo Estádio Natal Francisco, localizado onde é hoje a Praça dos Pioneiros.
Então afirmo aqui que o considero uma pessoa que merece ser lembrada nesta data pelo que fez de bom, não pelas suas falhas. Quantos homens nos anos 1930 e 1940 se arriscariam a comandar algum tipo de trabalho que tivesse responsabilidade sobre o futuro de uma cidade e sobre a vida de tantas pessoas? Ainda mais na época em que Paranavaí se resumia a um povoado no meio de uma selva habitada por aventureiros, sonhadores, oportunistas e criminosos. Em síntese, uma diversidade até perigosa.
60 Anos de Paranavaí
Paranavaí, 14 de novembro de 2012.
São 60 anos de um município com uma história que ultrapassa os cem. Paranavaí não seria o que é hoje se não fosse por centenas de peões que criaram uma estrada com mais de 110 quilômetros de extensão ligando a velha Fazenda Ivaí ao Porto São José; se não fosse por pessoas que resistiram a 40 dias e 40 noites de chuvas dormindo em um barracão de bicho da seda. Além disso, reconstruíram uma ponte e atravessaram a nado o Rio Paraná para conseguirem chegar à Vila Montoya. Nem a Revolução de 1930, que culminou em desemprego para toda uma população que teve de caminhar mais de 220 quilômetros, impediu a colônia de renascer novamente sob o signo do café.
Nem mesmo uma série de incêndios criminosos que atingiu os cafezais e centenas de moradias em 1931 inviabilizou a sobrevivência do povoado. Paranavaí também não seria o que é hoje se não fosse a iniciativa do interventor federal Manoel Ribas para que o engenheiro Francisco Natel de Camargo diminuísse a influência paulista, abrindo novas estradas e ampliando a relação da Velha Brasileira com o restante do Paraná. Paranavaí tem uma extensa história de obstáculos, até mesmo por parte do poder público que só voltou a se preocupar com a localidade em 1935.
Infelizmente, muitos personagens importantes são praticamente desconhecidos da população. Falo do marceneiro Hugo Doubek, o curitibano que se tornou o primeiro administrador de Paranavaí. Doubek não apenas administrava a colônia, mas cuidava de toda a população. Quando houve um surto de leishmaniose em Paranavaí, passou dias na selva tentando encontrar ervas que pudessem lhe auxiliar na cura dos enfermos.
Não dormiu por semanas, prestando atendimento numa época em que a colônia não tinha médicos. Evitou a morte de muita gente, desde crianças a idosos. Fez muito mais; impediu assassinatos envolvendo brigas por terras. Como era um mestre marceneiro, até construiu casas para os moradores de Paranavaí. Em 1944, Hugo Doubek e Ulisses Faria Bandeira demarcaram toda a área da colônia a pé. Percorreram centenas de quilômetros até as fronteiras com São Paulo e Mato Grosso.
O ex-vereador Otacílio Egger é outra figura de destaque que todo paranavaiense deveria saber quem foi. O primeiro político eleito pela colônia, Egger fazia questão de participar de todas as sessões da Câmara Municipal de Mandaguari em 1948. À época, não se importava em sair de Paranavaí a pé num dia para estar em Mandaguari no outro para defender os interesses da população. Temos muitos personagens ainda anônimos, mas esses são alguns que faço questão de enaltecer neste dia em que comemoramos mais um aniversário.
Amo Paranavaí porque a conheço, e acho que não há nada mais incompleto que amar no desconhecimento.
O pioneirismo de um curitibano
Aldo Silva viabilizou a construção do Cemitério Municipal de Paranavaí
O advogado Aldo Silva que chegou a Paranavaí nos anos 1940, além de atuar na promotoria pública, se elegeu vereador por quatro mandatos consecutivos. Como presidente da Câmara Municipal foi o responsável pela viabilização da construção do Cemitério Municipal.
O curitibano Aldo Silva se mudou para Paranavaí em 20 de maio de 1948. Com 34 anos, terminava o mandato como deputado estadual. “Quando cheguei à colônia havia cerca de 300 moradores. Me hospedei na pensão de Artur de Melo, perto da hospedaria do “Seu Rodrigo” [Rodrigo Ayres de Oliveira]. Passei uma noite horrível porque estava muito frio e o vento entrava pelas frestas na parede de pau-a-pique”, relatou Silva em entrevista a estudantes locais nos anos 1970.
Em Paranavaí, Silva logo conheceu diversos personagens que fazem parte do pioneirismo local, como Rodrigo Ayres de Oliveira, Família Palmiano, Zé Peão, José Cândido de Freitas, Manoel Paulino e Ulisses Faria Bandeira. “Este último veio pra cá ainda muito menino”, comentou o advogado que foi transferido a Paranavaí para exercer a função de promotor de justiça, cargo que lhe rendeu boa popularidade, além de estar sempre em contato com a política local.
Não são poucos os que apontam Aldo Silva como uma das pessoas mais influentes da história de Paranavaí. Ainda assim, o advogado jamais se considerou pioneiro. “Não fui um dos desbravadores, mas sim um dos primeiros que vieram para cá quando aqui passou realmente a existir como Paranavaí. Foi um tempo de afluxo muito grande de gente”, destacou, acrescentando que pessoas de vários países e de todos os estados do Brasil fixavam residência na colônia.
Em 1952, Aldo Silva foi eleito vereador e no ano seguinte assumiu como presidente da Câmara Municipal. No dia 16 de novembro de 1953, assinou um decreto que viabilizou a construção do Cemitério Municipal. O bom trabalho desempenhado pelo advogado lhe rendeu a reeleição. Em 1956, o candidato do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) se elegeu com 727 votos. E não parou por aí. Aldo Silva garantiu uma vaga na Câmara de Vereadores até 1968. Foram 16 anos dedicados à política municipal.
As curiosidades do passado
Entre os fatos mais curiosos lembrados pelo pioneiro Aldo Silva está um que envolve o primeiro prédio da administração pública. “O local onde funciona hoje a Prefeitura de Paranavaí já era usado com essa finalidade naquela época, a diferença é que era maior e abrigava todos os serviços públicos, inclusive estaduais”, frisou Aldo Silva, acrescentando que antes o espaço servia como hospedaria.
O vereador conheceu o primeiro advogado de Paranavaí, Dalio Zippin Grinspun, de origem polonesa, que anos depois se mudou para Curitiba. “Era um sujeito que dormia de dia e de noite, em pé, sentado, até conversando com a gente”, disse. Outra personalidade da história local com quem o vereador teve bastante contato foi Oscarlino Carvalho Duarte, apontado como o pioneiro que desbravou a região de Santa Isabel do Ivaí. “Ele foi o primeiro a ter geladeira, fogão, automóvel de luxo e também a construir um sobrado em Paranavaí”, revelou o advogado que em suas viagens pelo Noroeste do Paraná se deparou com fatos inimagináveis.
Nas imediações do Rio Paranapanema, Aldo Silva teve a oportunidade de conhecer o “Ranchão de Zinco”, um local que nos anos 1940 e 1950 ficou conhecido como “cemitério de veículos”. “Lá, havia muitos caminhões e automóveis deteriorados que foram abandonados. Os que vieram pra cá no início, sempre passavam pelo Paranapanema”, justificou. Segundo pioneiros, era comum os migrantes abandonarem veículos nas estradas e jamais retornarem para buscar, então surgiu a iniciativa de remanejá-los para uma área que depois recebeu o nome de “Ranchão de Zinco”. No local, o que surpreendia é que havia automóveis e jipes com a lataria em ótimo estado de conservação.
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O curitibano Aldo Silva nasceu em 1914 e faleceu no dia 7 de junho de 1977 em Paranavaí.
O agrimensor que se elegeu prefeito
Ulisses Faria Bandeira venceu a eleição municipal de 1956
O agrimensor Ulisses Faria Bandeira conheceu Paranavaí, no Noroeste do Paraná, em 1939, mas fixou residência alguns anos depois. Foi o primeiro morador a se casar na colônia. Em 1956, se elegeu prefeito e viveu em Paranavaí até os últimos dias de vida.
Ulisses Faria, que nasceu em São Mateus do Sul, no Sudeste Paranaense, se mudou para Londrina aos 17 anos, em 1938, após aceitar um convite do tio Francisco de Almeida Faria para trabalhar na 4ª Inspetoria de Terras do Estado do Paraná.
Bandeira se dedicou muito ao trabalho e logo se tornou o braço direito de Francisco de Almeida, diretor da inspetoria. O ofício, Ulisses aprendeu rápido, e em 1939 foi um dos ilustres convidados a participar da viagem de inauguração da linha Londrina-Fazenda Brasileira, da Viação Garcia.
Em 1942, aos 21 anos, Bandeira retornou à Brasileira, encarregado de demarcar algumas vias. Ao final do trabalho, o agrimensor voltou para Londrina. A oportunidade para fixar residência na futura Paranavaí surgiu em 1944, quando Ulisses Faria assumiu o cargo de diretor da Inspetoria de Terras do Estado, escritório regional de Paranavaí.
Bandeira definitivamente adotou a Brasileira como lar, tanto que em 11 de maio de 1949 se casou com uma moradora local, Balbina Guilherme de Aguiar. Foi o primeiro casamento de Paranavaí. “Naquele tempo, uma das maiores colônias que havia na Brasileira era a Colônia Nº 2, onde é hoje o Jardim Ouro Branco”, relatou Ulisses Faria ao jornalista Saul Bogoni há algumas décadas.
Quando questionado sobre os primeiros pioneiros de Paranavaí, o agrimensor sempre citava a Família Fabrício, José Firmino, Frutuoso Joaquim de Salles, João Clariano e Telmo Ribeiro. “Todos esses eram da época da [Companhia Brasileira de Viação e Comércio] Braviaco”, garantiu o pioneiro.
O prestígio do inspetor de terras junto à população era tão grande que Bandeira foi estimulado a disputar as eleições municipais de 18 de novembro de 1956, concorrendo ao cargo de prefeito. Obteve 4071 votos contra 4029 de Herculano Rubim Toledo. “Foi uma campanha pesada e acirrada”, admitiu.
O agrimensor foi o segundo prefeito de Paranavaí, sucedendo o médico José Vaz de Carvalho. Naquele ano, assumiram como vereadores Aldo Silva, Francisco Rodrigues Ruiz, Gustavo Marques de Oliveira, José Vaz de Carvalho, José de Souza Leite, José Vendolino Schueroff, Minoru Imoto, Nelson Busato dos Santos, Osvaldo Madalozzo e Vivaldo Oliveira. Aldo, Gustavo, José de Souza e Vivaldo já ocupavam cargo na Câmara Municipal, pois foram eleitos em 1952.
Ulisses Faria Bandeira conquistou muita popularidade pelo hábito de interagir com os moradores, principalmente nos finais de semana quando participava de partidas de futebol no antigo Estádio Natal Francisco, localizado onde é hoje a Praça dos Pioneiros. “Joguei de ponta-direita no Atlético Clube Paranavaí (ACP). Eu não era um bom jogador, apenas razoável”, revelou Bandeira que viveu em Paranavaí até os últimos dias de vida.
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Ulisses Faria Bandeira nasceu em 24 de março de 1921.
Demarcação da Brasileira foi feita a pé
Primeiras vias de Paranavaí foram demarcadas em 1942
Quem vê hoje as ruas, avenidas e estradas de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, nem imagina que toda a área foi demarcada a pé, sem auxílio de qualquer meio de transporte. Tudo começou no início dos anos 1940, quando a colônia ainda era conhecida como Fazenda Brasileira.
Em 1942, Ulisses Faria Bandeira, funcionário da Inspetoria de Terras do Governo do Paraná, dirigida por Francisco de Almeida Faria, foi transferido de Londrina à Fazenda Brasileira para demarcar a primeira via da colônia, a Avenida Paraná. O trabalho de Bandeira teve relação direta com a chegada de migrantes.
Aparentemente, a demarcação simbolizava o interesse do Governo do Paraná em investir no desenvolvimento do povoado, o que atrairia a atenção dos migrantes que por aqui passavam. A estratégia deu certo e em setembro de 1943 muitas pessoas chegaram ao povoado.
Naquele tempo, atrair quem buscava melhores condições de vida era uma tarefa complicada, pois o acesso a Paranavaí era tão precário que nenhum caminhoneiro de Londrina [cidade por onde passavam os muitos migrantes que vieram para cá] aceitava realizar um frete até a Brasileira por menos de 1,5 mil cruzeiros, preço muito elevado se comparado a outros destinos.
Ainda assim, muitos insistiam na viagem, pagavam o que fosse para chegar ao povoado do qual se ouvia falar muito bem em Londrina. Mas como a propaganda sempre supera a realidade, a verdade é que a Brasileira era bem desorganizada, se resumia a um amontoado de pessoas de diferentes etnias dispersas por todos os lados. “Quando cheguei aqui só a Gleba 1-A tinha sido demarcada, um trabalho do engenheiro Alberto Gineste”, lembrou o pioneiro Ulisses Faria Bandeira em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.
Em 1942, já não havia mais casas disponíveis. As que restaram da época do Distrito de Montoya [nome de Paranavaí até 1930] foram desmanchadas e realocadas em outras áreas. Por muitas vezes, os colonos pensaram em ir para o mato derrubar árvores para aproveitar a madeira. Porém, ninguém na colônia tinha equipamento e veículo necessário para o serviço. “A madeira ainda era trazida de Marialva [no Norte Central Paranaense], então sugeri a construção de uma serraria”, relatou Bandeira.
“Só achei os primeiros colonos a vinte quilômetros”
Aos poucos, a Fazenda Brasileira ganhou contornos de cidade, graças ao empenho do inspetor Ulisses Faria e do administrador da colônia, Hugo Doubek, que fizeram o trabalho de demarcação territorial a pé, tendo como referência a localização de todos os moradores do povoado. “Recebi a ordem para achar toda aquela gente, obedecendo certa metragem que margeava córregos e rios. Foi tudo feito sem condução, e só achei os primeiros colonos a vinte quilômetros da Inspetoria de Terras”, destacou Doubek em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas.
Em 1944, a Gleba 1-A, ocupada principalmente por paulistas, mineiros, cearenses e pernambucanos, já somava 30 quilômetros de estrada que a ligavam a Paranavaí. Em uma antiga entrevista ao jornalista Saul Bogoni, Bandeira revelou que havia inúmeras colônias em Paranavaí porque muitos pioneiros chegaram antes de 1940, o que foi percebido somente durante o trabalho de campo.
A Gleba 2 foi a única área da Brasileira não demarcada por Doubek e Bandeira. Quem se encarregou do trabalho em janeiro de 1944 foram os engenheiros Artur Oliva e Lota Chimoca que percorreram área superior a 15 mil alqueires, onde ainda havia muita vegetação primitiva. “A Gleba 2 tinha como ponto de partida a estrada que vai para o Porto São José”, salientou Ulisses Faria que naquele ano tomou a iniciativa de investir no abastecimento de água. Bandeira conseguiu uma bomba com motor a gás para fazer a captação. A ideia beneficiou mais de cem famílias.
Curiosidade
Um registro de propriedade da Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) prova que Paranavaí já era habitada em 1910, à época a região era chamada de “Pirapó”.