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Viagem ao Porto São José durava dias

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O trecho da Estrada Boiadeira que ligava Paranavaí ao Porto São José foi aberto em 1939

Por várias décadas, o Porto São José foi determinante nas negociações de gado (Foto: David Arioch)

Na época da colonização de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, para chegar ao Porto São José, por onde atravessava o gado que vinha do Mato Grosso, os pioneiros levavam pelo menos seis dias para percorrer um túnel no meio da mata.

O trecho da Estrada Boiadeira que ligava Paranavaí ao Porto São José foi aberto em 1939 pelo Capitão Telmo Ribeiro, homem designado pelo interventor Manoel Ribas para abrir vias em toda a região Noroeste do Paraná. No entanto, em 1941 a vegetação já havia coberto boa parte da estrada. Segundo pioneiros, qualquer via que não recebesse manutenção regular se tornava intransitável. No mesmo ano, Ribeiro exigiu que a estrada fosse recuperada.

Para facilitar as negociações de gado entre Mato Grosso e Paraná, o interventor Manoel Ribas tomou a decisão de inaugurar uma balsa no Porto São José. O evento também beneficiou muitos migrantes e viajantes que buscavam prosperidade no Noroeste do Paraná. “Vim pra Fazenda Velha Brasileira pela primeira vez logo que a balsa foi inaugurada em 1941”, relatou o pioneiro gaúcho Otávio Marques de Siqueira em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

Em 1947, pioneiros se preparando para viagem ao Porto São José (Foto: Reprodução)

No trajeto até a Brasileira, Marques de Siqueira colocou dois sacos na frente do carro para impedir que sementes de guanxuma entupissem o radiador, o que dá uma ideia da diversidade da flora paranaense naquele tempo. Em 1947, parte dos pioneiros começou a percorrer o trajeto de caminhão e em grupo. Se surgisse algum imprevisto, haveria pessoas o suficiente para ajudar.  “A viagem ao Porto São José era muito difícil. Quando eu ia pra lá, levava pelo menos 14 dias de ida e volta, incluindo os dois dias de estadia”, frisou o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, em entrevista à prefeitura há algumas décadas.

Quem viajava ao porto com veículo de tração animal sofria para atravessá-los. Não havia pontes em alguns trechos. “O jeito era colocar os mantimentos nas costas e atravessar os bichos de pouco em pouco. A gente tinha que fazer várias viagens, até passar todo mundo”, afirmou José Ferreira, acrescentando que depois era preciso recarregar a carroça.

Segundo Araújo, era uma luta entre ir e vir porque a estrada para o Porto São José consistia em um “túnel dentro da mata”. “A gente sofria bastante, mas valeu a pena porque conheci tudo”, avalia. Nas viagens para o Porto São José, Palhacinho sempre viu veículos abandonados pela estrada, principalmente pés-de-bode. “Isso aconteceu muito, ainda mais depois que os Rocha abandonaram as fazendas da Colônia Paranavaí. Os baianos que trabalhavam pra eles ficaram espantados e fugiram com medo da polícia. Largaram todos os carros”, revelou.

Outro pioneiro que conheceu o Porto São José no início dos anos 1940 foi o paulista Salatiel Loureiro. “Lembro que não existia nada no porto, só o nome. O picadão foi feito para o trânsito do gado que era levado pra Apucarana, Londrina e Ponta Grossa. Eles passavam pela Estrada Boiadeira e saíam em Jaguapitã e Sertanópolis [no Norte Central Paranaense]”, assinala. Quem também viajou algumas vezes para o Porto São José foi o pioneiro paulista Valdomiro Carvalho.

“Eu ia pro Mato Grosso buscar gado. A gente atravessava eles pelo porto, num vaporzinho”, pontua. Os personagens de destaque do Porto São José no período da Fazenda Brasileira e da Colônia Paranavaí eram o balseiro, de quem não se sabe o nome, e um homem conhecido apenas como “Seu Henrique” que desempenhava função semelhante a de um inspetor de terras.

Saiba mais

A Estrada Boiadeira era usada tanto por quem ia ao Porto São José quanto por quem ia a Londrina.