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Queenie, a vaca que fugiu de um matadouro em Nova York

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Ela escapou do Astoria Live Poultry depois de ouvir alguns animais gemendo e reconhecer o seu destino

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Queenie vivendo tranquilamente no Farm Sanctuary (Foto: Divulgação)

Em 2000, Queenie, uma vaca branca e marrom, fugiu de um matadouro no Queens, em Nova York, depois de ouvir alguns animais gemendo. Quando percebeu que seria enviada para a morte, ela percorreu desesperadamente vários quarteirões da cidade, interrompendo o trânsito e chamando a atenção de motoristas e pedestres.

Para capturá-la, foram enviadas mais de uma dúzia de viaturas da polícia de Nova York e veículos do Corpo de Bombeiros. As primeiras chamadas para o 911 foram recebidas antes das 10h, mas Queenie só foi capturada uma hora depois, com a mobilização de dezenas de pessoas e o uso de uma arma tranquilizante.

A vaca que teve a sua fuga interrompida em Briarwood, um bairro de classe média de Nova York, fugiu do Astoria Live Poultry, um matadouro halal, onde os animais são executados de acordo com a lei islâmica. A sua fuga, na tentativa de garantir a própria liberdade, fez com que centenas de pessoas ligassem para o Centro de Controle e Cuidados de Animais pedindo que ajudassem a salvá-la.

A história de Queenie teve rápida repercussão, não apenas em Nova York, mas em todo o país. Os principais veículos de comunicação dos Estados Unidos, incluindo mídia impressa, TV e rádio, fizeram a divulgação. “Milhões de telespectadores viram uma vaca assustada correndo do matadouro, claramente consciente do destino que a esperava”, registrou o Farm Sanctuary, de Nova York, em seu site. Houve grande comoção e pressão sobre o Astoria Live Poultry, para que a liberassem e permitissem que a vaca passasse o resto de sua vida em liberdade.

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Obra de Sue Coe inspirada na fuga de Queenie

Logo o Farm Sanctuary, em Watkins Glen, entrou em contato com o Centro de Controle e Cuidados de Animais, oferecendo um local seguro e amoroso para Queenie. Graças à pressão pública, Aladdin El-Sayed, o proprietário do matadouro, concordou em libertá-la. Aos jornais Newsday e Daily News, ele disse que, embora tenha pagado 500 dólares pela vaca, se Deus estava disposto a dar a ela uma nova vida, por que ele não concordaria? Sayed também comentou que notou algo de diferente nela.

Quando chegou ao Farm Sanctuary, Queenie saltou da carretinha em meio aos aplausos de boas-vindas da equipe do santuário de animais. Algumas vacas também a recepcionaram. Em 2001, a artista inglesa Sue Coe, que vive em Nova York desde 1972, transformou a história em uma obra intitulada “Queenie Escapes the Slaughterhouse”. A fuga de Queenie serviu para mostrar que vacas também têm emoções e sentimentos.

Referências

https://www.farmsanctuary.org/the-sanctuaries/rescued-animals/featured-past-rescues/queenie/

http://www.nydailynews.com/news/wild-chase-takes-cruise-queens-article-1.243566

http://nycitylens.com/2016/02/animal-escapes/

Written by David Arioch

fevereiro 13, 2017 at 4:15 pm

Sue Coe: “Ser vegano está além do que você come. É um movimento de justiça social”

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“Enquanto falamos, somos capazes de ouvir um bezerro que foi tirado da própria mãe e chora sem parar por três dias. Essa é a realidade [da produção de leite]”

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Sue Coe: “Quando você segura uma galinha, você percebe que há uma força de vida lutando para sobreviver”

Nascida em 21 de fevereiro de 1951, a artista e ilustradora Sue Coe, uma das maiores referências em arte sobre direitos animais, cresceu perto de um matadouro em Tamworth, Staffordshire, na Inglaterra. A experiência fez com que ela desenvolvesse um grande interesse em sensibilizar as pessoas sobre a crueldade contra os animais. Porém, seus pais esperavam que ela trilhasse outro caminho. Na adolescência, eles queriam que Sue se tornasse uma secretária ou trabalhasse em uma fábrica. Idealista, ela preferiu se arriscar como artista.

Estudou ilustrações e arte comercial na Chelsea School of Art e na Royal College of Art, em Londres. Mesmo sonhando com um futuro nesse ramo, ela se sentia incomodada com o fato de que as mulheres inglesas que atuavam nessa área só eram contratadas para ilustrar livros infantis. Coe não queria isso.

Para a sua surpresa, o dom para as artes chamou a atenção de revistas inglesas e de outros países europeus. Quando se mudou para Nova York em 1972, aos 21 anos, ela decidiu enveredar pelo caminho do artivismo, ou seja, começou a produzir arte como uma ferramenta de ativismo político. Na matéria “Staying True to a Unique Vision of Art”, publicada pelo Los Angeles Times em 1º de abril de 2001, ela relatou que o que a atraiu nos Estados Unidos foi o multiculturalismo, uma abertura de espírito muito emocionante.

Em Nova York, ela recebeu importantes convites para abordar questões como fome, miséria, terrorismo e racismo. Suas ilustrações ocuparam espaço privilegiado em edições de importantes veículos de comunicação, como o New York Times, New Yorker, Time, Newsweek, Village Voice, Esquire, Mother Jones e Rolling Stone.

Ainda nos anos 1970, enquanto vendia suas obras, Sue Coe deu aulas na School of Visual Arts, de Nova York. “Ela se estabeleceu como uma versátil artista adepta de pinturas, desenhos, litografias, colagens e gravuras, habilmente usando guache, grafite, aquarela, lápis de cera e carvão. […] Ela mostra problemas sociais ignorados ou ocultados pelo governo, corporações, sociedade e mídia. Ela costuma ser comparada a artistas como Honoré Daumier, Käthe Kollwitz e Francisco Goya”, escreveu Susan Vaughn, do LA Times.

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Foi no início dos anos 1980 que Sue Coe se voltou para a situação dos animais mortos para consumo humano. Ao longo de seis anos, ela realizou pesquisas e visitou matadouros de várias regiões dos Estados Unidos. “Quando comecei, pensei: ‘Ah, isso não vai mudar.’ Então percebi que poderia motivar as pessoas. Acho que o melhor que pode acontecer é você instigar o diálogo. Acredito que a maioria das pessoas tem a mente aberta”, informou Coe à Susan.

A artista inglesa, que se considera uma jornalista visual, possui um estilo mordaz que lembra o trabalho do escritor e reformador social Upton Sinclair, autor de The Jungle (A Selva), que denunciou as mazelas da indústria frigorífica em 1906. Modesta, Sue Coe diz que se um dia alcançar 1% da genialidade do pintor holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn, autor de Slaughtered Ox (Boi Abatido), de 1655, ela se sentirá realizada.

Autora de livros de ilustrações como “Dead Meat”, de 1995; “Pitt’s Letter”, de 2000; “Sheep of Fools”, de 2005; “Cruel: Bearing Witness to Animal Exploitation”, de 2012; e “The Animals’s Vegan Manifesto”, de 2017, ela contribuiu para que milhares de pessoas se tornassem vegetarianas e veganas por meio de sua arte engajada na defesa dos direitos animais. Muitas de suas ilustrações denunciam principalmente a cruel realidade vivida por animais criados e mortos para tornarem-se comida. “Por favor, veja por si mesmo, vá a um matadouro. Veja o que ocorre e, se você não pode, pergunte a si mesmo o porquê”, sugeriu.

Sempre que a questionam sobre como ela consegue retratar situações dolorosas sem enlouquecer, Sue Coe argumenta que o seu trabalho é uma forma de terapia, além de sentir-se motivada pela possibilidade de mudar a mente das pessoas em relação a como os animais são vistos e tratados. “Quando você segura uma galinha, e elas são feitas apenas de carne e ossos, mas você sente um coração batendo rapidamente, você percebe que há uma força de vida lutando para sobreviver, é isso que me move”, argumentou em entrevista ao LA Times.butcher-to-the-world-fix

Durante alguns anos, a ilustradora vegana Sue Coe viveu em um apartamento de um quarto em Nova York, dedicando-se às ilustrações. Embora famosa nesse meio, sempre vendeu impressões de alguns de seus trabalhos a preços bem acessíveis. “Não compro coisas que não preciso. Meu trabalho é mais importante do que possuir um micro-ondas [por exemplo]”, ponderou, acrescentando que destina parte de seus lucros à Farm Sanctuary, em Watkins Glen, em Nova York. O santuário cuida de animais que seriam mortos pela indústria agropecuária.

Segundo Sue, mesmo que você seja uma artista e tente desenhar 50 vacas ou 50 ovelhas, você precisa ter em mente que todas elas têm diferentes personalidades. E se você for a um santuário e começar a desenhá-las, elas se apoiarão em você, e você sentirá o seu doce hálito com aroma de feno:

“Cada uma é tão individual e diferente. E desenhar apenas 50 é quase impossível. Por isso, preciso olhar nos olhos de uma ovelha ou de todos os animais que encontro em um matadouro, o que representa apenas uma gota do sangue de todos os animais massacrados. E assim que sou notada, muitos deles me olham diretamente nos olhos, e o que eles dizem, eu registrei isso em um livro. O que eles dizem é tão claro como se escrevessem em inglês e com letras gigantes: ‘Por que vocês estão fazendo isso comigo?’ É o que eles estão dizendo.”

Em entrevista a Sunaura Taylor, da Bomb Magazine, de Nova York, em 2 de agosto de 2012, Sue Coe contou que pessoas influentes do mercado editorial de Nova York tentaram se livrar dela nos anos 1980. Mesmo que não tenham conseguido fazer com que desistisse do seu trabalho, ela prefere dizer que não tem uma carreira, mas sim uma missão: “Já amarguei meses e meses sem dinheiro, pensando: ‘Ah, como eu gostaria de ter sido capaz de vender este mês, ou coisa parecida. Mas estou tão acostumada com isso agora. Então nunca pensei no meu trabalho como uma carreira.”

Ela jamais se esqueceu do dia em que acompanhou um bando de cabras e ovelhas arrastadas para um matadouro. Compenetrada no comportamento dos animais, ela se distanciou de si mesma. “Continuei a desenhar mecanicamente, e o resultado é um desenho que nunca estará à venda. É um lembrete para mim, do porquê estou fazendo esse trabalho”, justificou.

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Questionada sobre como faz para conseguir entrar em matadouros onde nenhum jornalista entrou antes, Sue Coe explicou que tudo depende da abordagem e das ferramentas que você carrega. “Levo apenas papel e lápis, e as pessoas podem ver o que estou fazendo. Não estou roubando nada. Não vou tirar nada. Se eles querem meus desenhos, eles podem tê-los. Contanto que eu não retrate trabalhadores como monstros, o que nunca faço de qualquer maneira, embora algumas vezes fiz isso, tenho de admitir”, revelou em entrevista a Caryn Hartglass no podcast “It’s All About Food” em 20 de junho de 2012.

Sue Coe prefere visitar matadouros menores, porque esses são os que menos dificultam suas visitas. Mesmo assim, ela sempre se depara com uma mesma situação – funcionários de matadouros com receio de ficarem desempregados. “Eles não querem ser atacados por ativistas dos direitos animais. Então eles me veem e simplesmente conversamos sobre qualquer assunto que eles queiram. Muitos deles são falantes de espanhol. Então dou-lhes um desenho, e eles podem olhar e dizer se devo mudar alguma coisa. Eles apenas olham e dizem: ‘Ah, isso é bom! Você poderia ser estenógrafa’”, narrou.

Sue perdeu as contas de quantos matadouros visitou ao longo de décadas. Só no livro “Cruel: Bearing Witness to Animal Exploitation”, de 2012, ela traz ilustrações de experiências em 35 a 40 matadouros. “É muito mais fácil entrar em matadouros halal [islâmico] ou kosher [judaico] porque eles são pequenos, de propriedade familiar. Os maiores são da IBP [International Pork and Beef]. Entrei [em matadouro deles também], mas foi muito difícil. Costumo chegar dizendo: ‘Sou uma artista. Gostaria de desenhar.’ Eles dizem sim ou não”, resumiu.

Quando permitem que Sue Coe visite um matadouro, ela é revistada e em seguida lhe entregam um uniforme. “Não é necessário que alguém entre em um matadouro para ver e entender o que acontece lá dentro. Você esquece muito rapidamente, pessoas esquecem, mas eu nunca esquecerei. Vou fazer isso até morrer, porque é minha responsabilidade com os rostos que vi. Esse é o meu trabalho. Essa era a vida deles. Eu os vi. Eles olharam em meus olhos, e eles me viram”, garantiu a ilustradora a Sunaura Taylor, da Bomb Magazine.4- The Ghosts Of The  Skinned Want Coats Back.jpg

Com a experiência de quem acompanha a realidade dos animais explorados na indústria alimentícia desde os anos 1980, Sue admite que produzir centenas e centenas de desenhos e pinturas sobre a questão animalista intensificou sua conexão com os animais. Em entrevista a Elin Slavick do Media Reader, em 2005, ela destacou a importância de educar o público sobre a trajetória do “alimento” de origem animal antes dele chegar à mesa:

“Acredito na bondade das pessoas, e acho que elas são inteligentes o suficiente para fazerem uma boa escolha. Abram as portas dos matadouros e das fazendas. Deixe as pessoas verem como as porcas são mantidas presas suas vidas inteiras, sem espaço para girarem o corpo. Porcos em estado natural [livres], passam 70% de suas horas de vigília explorando o ambiente, se enraizando na sujeira e socializando. Os bezerros, fracos demais para manterem-se de pé, são alimentados apenas com leite, encaixotados e enviados para o abate. Há cientistas que dizem que as vacas leiteiras estão tão cansadas quanto um ser humano correndo em uma maratona, por causa do estresse em seus corpos em decorrência da enorme produção de leite. E as galinhas, que vivem sem espaço suficiente para estica suas asas, são seis por cada gaiola até o momento do abate; ficam com os ossos tão fracos que desenvolvem fraturas por causa do estresse físico.” (An Interview with Sue Coe By Elin Slavick, Media Reder, 2005).

Sue Coe jamais acreditou que as leis do bem-estarismo, que alega diminuir o sofrimento do animal reduzido a produto, vão culminar no abolicionismo animal. Para ela, não existe bem-estar quando se fala em um animal que vai ser eventualmente morto para o consumo humano. “Sob este sistema econômico, a pressão é para que a pequena fazenda fique maior ou vá à falência. Penso que esta luta para melhorar as condições de vida dos animais criados em fazenda tem chamado a atenção das pessoas. Ela tira a pressão sobre o pequeno criador, que pode receber subsídios para migrar da criação de animais para a produção de vegetais, e isso [em médio ou longo prazo] acabará por eliminar os métodos das fazendas industriais”, analisou.

Sue viaja muito ministrando palestras sobre desenhos e ilustrações, e não para ativistas dos direitos animais, mas sim para comunidades, locais em que, para a sua surpresa, seu trabalho é muito bem recebido. “Costumo dizer que as fazendas industriais são erradas e discutirmos sobre isso. Então eles falam que vão parar de consumir produtos de origem animal. Agora a pergunta número um que recebo é: ‘Está tudo bem em comer produtos do abate humanitário?’ Claro que digo que não! Não está tudo bem em comer qualquer animal, de pequenas ou grandes fazendas. E as pessoas entendem. Se alguém se torna um farol por causa do meu trabalho, esse é o meu prêmio. Como disse um ativista, é como empurrar uma pedra até uma colina com a ponta do nariz. Não é fácil, mas pode ser feito”, relatou a Caryn Hartglass, do podcast “It’s All About Food” e a Susan Vaughn, do Los Angeles Times.

“Não podemos nem chegar perto da opressão do direito corporativo [da indústria da exploração animal]. Nossa propaganda é como um minúsculo dedal cheio de verdades – uma minúscula partícula. Mas essa partícula é muito perigosa para eles. Por isso que eles estão constantemente tentando esmagá-la. Quero dizer, tudo que temos a fazer é um panfleto, cartaz ou grafite, e isso pode explodi-los em um sopro, porque tudo que eles fazem é baseado em mentiras. E [sabemos que] um pouco de verdade pode se espalhar por águas oleosas.” (Drawing Attention: Sue Coe, de Sunaura Taylor, Bomb Magazine, 2 de agosto de 2012.) 

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Sue Coe não se define politicamente. Ela alega que isso pode interferir na mensagem. Em sua opinião, não é útil rotular-se. “Como artista, desejo que o espectador olhe através dos meus olhos, veja o que vi, e não olhe para a cor dos meus olhos. […] Não sei se a alegria é possível para cada ser vivo, mas cada ser vivo faz o máximo que pode para evitar sofrimento e dor”, disse a Elin Slavik, do Media Reader.

Vivendo há alguns anos em uma cabana sustentável e com energia solar em uma floresta ao norte de Nova York, Sue Coe não raramente escuta o que ocorre nas fazendas vizinhas. “Enquanto conversamos, somos capazes de ouvir um bezerro que foi tirado da própria mãe e chora sem parar por três dias. Essa é a realidade [da produção de leite]”, lamentou a Caryn Hartglass.

Sobre a sua descrença no suposto abate humanitário, a artista também relatou como exemplo a experiência de um amigo que visitou um matadouro no Canadá. No local, eles têm câmaras de gás, onde os porcos seguem um sistema de linha única. Porém, quando o animal percebe a iminência da morte, ele faz de tudo para sair do local, inclusive tentando escalar as laterais:

“Nesse processo, eles são eletrocutados nos olhos, que é uma parte tão sensível deles quanto a nossa. Eles são cutucados para seguirem no sistema de linha única. Assim, o chamado abate humanitário acaba por ter o dobro de tortura. É por isso que quando os defensores dos direitos animais se envolvem com isso, eles precisam ser muito cuidadosos, porque a indústria da carne é apenas sobre como lucrar. E eles podem incluir câmaras de gás porque são baratas, já que mata seis animais de cada vez. É por isso que acho incrivelmente ingênuo, ou terrível, quando os defensores dos direitos animais se envolvem nesse tipo de manipulação da indústria da carne”, confidenciou ao podcast “It’s All About Food” em 20 de junho de 2012.slaughterhouseentrance

Sue Coe argumenta que o único caminho de assegurar um tratamento mais justo aos animais não humanos é o veganismo. Ninguém precisa ser um amante dos animais para se tornar vegetariano ou vegano. O mais importante é entender que eles também têm direito à vida “Ser vegano está além do que você come. É um movimento de justiça social. Não se trata de uma escolha enquanto consumidor”, explicou a Caryn.

A ilustradora espera que chegue o dia em que os direitos animais e as questões de justiça social sejam bem aceitos, e as pessoas vejam como era o passado e digam: “Aqueles eram tempos sombrios, quando seres humanos costumavam matar animais para comer.” Sue crê que é muito fácil ser seduzido pela ideia de que os seres humanos são simplesmente maus. Porque se vermos o que fazemos deliberada e inconscientemente aos animais não humanos, a nós mesmos, a tudo, é muito fácil pensar que não há esperanças.

“É muito sedutor, mas não é verdade. Temos agora uma estrutura econômica que atinge a pior parte da espécie humana. Imagino uma sociedade com um tipo de estrutura econômica diferente – porque eu absolutamente acredito que os seres humanos farão o melhor sempre, se eles tiverem a oportunidade de tentar. Vi isso em tantos países diferentes no mundo, onde as pessoas são tão pobres, mas ainda partilham suas últimas coisas. Acho que seres humanos geralmente são muito nobres, estamos apenas presos neste maldito sistema que nos reflete. É uma ingenuidade política pensar que o ativismo dos direitos animais é apenas uma questão – que qualquer ativista é uma pessoa de apenas uma questão”, assinalou em entrevista a Sunaura Taylor, da Bomb Magazine publicada em 2 de agosto de 2012.

Saiba Mais

Para quem quiser conhecer melhor o trabalho de Sue Coe, acesse: http://www.graphicwitness.org

A artista inglesa pede que as pessoas visitem o site do santuário que ela ajuda em Nova York. Na página, há muitas informações sobre investigações de crueldades contra animais em fazenda – http://www.farmsanctuary.org.

Referências

http://www.graphicwitness.org/coe/latimes.htm

http://elena-kuzmina.blogspot.com.br/2008/05/art-activism-interview-with-sue-coe-by.html

http://bombmagazine.org/article/6696/

http://responsibleeatingandliving.com/interview-with-gary-steiner-and-sue-coe/

Written by David Arioch

fevereiro 9, 2017 at 8:51 pm

O grito dos animais por trás do grito de Edvard Munch

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“Creio que quando [Edvard Munch] criou esse nome [em alemão], ele o relacionou com o grito dos animais”

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O Grito, de Edvard Munch, cortesia da Galeria Nacional, em Oslo

O pintor norueguês Edvard Munch, precursor do expressionismo alemão, conquistou fama mundial com a sua obra-prima Skrik (O Grito), de 1893, considerada uma das mais importantes pinturas da história do expressionismo. Embora muita gente associe a obra à angústia e decepção em sua vida pessoal, a verdade é que existe muito mais por trás dessa pintura que se tornou o símbolo internacional da ansiedade.

Em “O Grito”, que mais tarde recebeu versões de Andy Warhol e Gary Larson, um corpo contorcido, um rosto esticado e uma boca oblonga e aberta tem ao fundo duas pessoas conversando, possíveis amigos de Munch. Acredita-se que as cores mais vívidas tenham sido inspiradas pelos matizes impetuosos do céu europeu durante a erupção do vulcão Krakatoa em 1883.

Há quem diga que a pintura é uma manifestação das insatisfações de Munch no amor e na amizade. Porém, declarações de artistas conceituados e pesquisas mais aprofundadas trazem informações reveladoras. Um exemplo é o livro “Edvard Munch: Behind the Scream”, da inglesa Sue Prideaux, publicado pela Yale University Press em 2005.

A escritora e pesquisadora da obra e vida do pintor norueguês confirma que a cena de “O Grito” foi baseada em um lugar na Colina de Ekeberg, um bairro de Oslo, na Noruega. A inspiração, segundo informações que Sue transcreveu do próprio diário de Edvard Munch, veio de uma memória de quando ele caminhava ao pôr-do-sol em companhia de dois amigos.

O pintor sentiu-se exaurido e parou para descansar, encostando na grade retratada na pintura. Também sofrendo de ansiedade, problema crônico que sempre o acompanhara, ouviu gritos que pareciam vir diretamente da natureza. Na realidade, eram gritos de animais sendo mortos em um matadouro perto de um hospício. Os sons perturbadores se misturaram ao choro dos pacientes internados em um manicômio onde sua irmã era uma das internas.

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Munch provavelmente tinha grande aptidão para se sensibilizar tanto com a dor humana quanto com a dor dos animais (Foto: Edvard Munch – The Dance of Life Site)

Na pintura, ao fundo, a paisagem esmaecida da Colina de Ekeberg, que proporciona uma túrbida perspectiva, deu a tônica do estado emocional de Munch transformado em protagonista. A inquietação do personagem combinou a agitação interna e externa de tudo que o pintor vivenciou na caminhada em companhia dos dois amigos. Ele também chamava sua pintura de Der Schrei der Natur (O Grito da Natureza), nome alemão que deu à obra.

“A experiência foi muito perturbadora para ele quando atravessou aquela ponte. Creio que quando [Edvard Munch] criou esse nome [em alemão], ele o relacionou com o grito dos animais. Acho que se abrirmos nossos corações para esse grito, os animais estão falando através de si mesmos”, interpreta a artista britânica Sue Coe, deixando subentendido que Munch provavelmente tinha grande aptidão para se sensibilizar tanto com a dor humana quanto com a dor dos animais.

Saiba Mais

Edvard Munch nasceu em Løten em 12 de dezembro de 1893 e faleceu em Ekely em 23 de janeiro de 1944.

Uma das cinco versões de “O Grito” foi vendida em um leilão por 120 milhões de dólares para um colecionador privado. As outras estão em exibição em museus ao redor do mundo.

Referências

Prideaux, Sue. Edvard Munch: Behind the Scream. Yale University Press (2005).

http://responsibleeatingandliving.com/interview-with-gary-steiner-and-sue-coe/