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A arte sulista de Luiz Carlos Prates

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Um mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso

Luiz Carlos, mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso (Foto: David Arioch)

Luiz Carlos, mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso (Foto: David Arioch)

O artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima é mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso, matérias-primas usadas para criar obras que resgatam elementos da cultura sulina.

Luiz Carlos nasceu em 1º de junho de 1930 em Alegrete, no Rio Grande do Sul, cidade natal do grande poeta Mário Quintana. O dom para as artes, descoberto na infância, foi incentivado pela avó africana que era pintora e desenhista. Na juventude, Prates de Lima decidiu investir na carreira de artista plástico e ingressou no Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Depois de formado, lecionou na Fundação Gaúcha do Trabalho. “Eu ensinava artesanato com chifres, ossos, madeira e couro”, afirma Luiz Carlos que trabalha com artes plásticas há mais de 60 anos. O artista que produz arte com as mais diversas matérias-primas é especialista não apenas na criação de esculturas, mas também de pinturas e desenhos. “Gosto de tudo relacionado à arte, e hoje quero passar isso para os outros porque já estou em idade avançada”, pondera.

Luiz Carlos conheceu Paranavaí há muito tempo, contudo só voltou a cidade em 1997, quando decidiu fixar residência. “Gostei muito daqui, e nesse período percebi que o pessoal gosta muito de obras em chifre e madeira. Também encomendam peças feitas com ossos, nem que seja por curiosidade”, revela, acrescentando que até hoje nunca precisou criar nenhuma obra que não gostasse.

Esmero do artista é percebido até numa pequena peça (Foto: David Arioch)

Esmero do artista é percebido até numa pequena peça (Foto: David Arioch)

O que mais chama atenção é que as peças feitas por Luiz Carlos Prates remetem à cultura sulista. Os exemplos estão no pequeno atelier improvisado no quintal. Lá, carretas dividem o espaço com chaleiras, cuias e ervas; tudo feito em madeira. A atmosfera rural do ambiente também parece contribuir para a plasticidade das obras. Quase tudo lembra outros tempos, até o esmero do artista ao entalhar e lixar uma peça menor que um dedo. São lembranças tornadas materiais e palpáveis do passado de Luiz Carlos.

Artista já produziu até 70 peças por semana

O carinho do artista ao segurar cada obra dá uma ideia do valor que a arte agrega a sua vida. Após mais de 60 anos de profissão, Luiz Carlos Prates de Lima ainda é exigente consigo mesmo. Realiza trabalhos sob encomenda, porém entrega uma peça apenas quando tem certeza que deu tudo de si.

Obras são inspiradas na cultura sulista (Foto: David Arioch)

Obras são inspiradas na cultura sulista (Foto: David Arioch)

“Há obras que levam até dois meses, mesmo trabalhando o dia todo. Exemplo é um quadro aplicado que fiz”, explica. Já outras peças são feitas em pouco tempo. O artista conta que dependendo do pedido chega a produzir até 70 obras por semana. “Além do Paraná, já enviei peças para o Japão, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e outros estados. Acho que para o Brasil todo”, garante em tom de orgulho.

Para o artista de fala calma e pausada, a matéria-prima mais fácil de manipular é a madeira, já o chifre é considerado o mais difícil. “O entalhe todo do chifre é feito só com lixa. É bem artesanal e tem que ter paciência”, justifica. Uma das obras mais produzidas pelo artista plástico é a carreta que leva cerca de uma semana para ficar pronta. Até hoje, Prates de Lima criou pelo menos 120. Uma curiosidade sobre as obras do artista é a influência indireta do naturalismo. Luiz Carlos evita dar brilho às peças, não as idealizando para não distanciá-las da realidade. “Gosto do verniz fosco, um trabalho encerado de madeira, sem brilho”, comenta.

Artista trabalha com artes plásticas há mais de 60 anos (Foto: David Arioch)

Artista trabalha com artes plásticas há mais de 60 anos (Foto: David Arioch)

Curiosidade

Quando morava no Rio Grande do Sul, antes de tornar-se evangélico, o artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima construía carros alegóricos, fantasias de carnaval e até escrevia enredos para escolas de samba.

Contato

Interessados em conhecer o trabalho do artista plástico podem ligar para (44) 9865-1391.

As esculturas de Antonio Menezes

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Artista plástico cria obras que são símbolos e metáforas da condição existencial do homem

Antonio Menezes cria obras com galhos, ossos e pedras (Foto: David Arioch)

No período de um ano e seis meses o artista plástico paranavaiense Antonio de Menezes Barbosa produziu mais de dez obras com materiais descartados. São peças feitas com galhos, ossos e pedras; símbolos e metáforas de sonhos e até da condição existencial do homem perante o mundo e a natureza.

O artista plástico Antonio de Menezes Barbosa descobriu o dom para as artes plásticas há 30 anos, quando confeccionou miniaturas de ferramentas de marceneiro, rastelos, enxadas e cavadeiras de mão. Porém, o cotidiano conturbado pelo trabalho não permitiu que na época Barbosa se dedicasse a atividade. Contudo, Antonio de Menezes nunca desistiu das artes plásticas e há um ano e meio decidiu produzir esculturas com maior regularidade.

Os materiais para a confecção das esculturas, Barbosa encontra na natureza. São galhos, pedras e ossos abandonados, fragmentos que para o artista ganham formas antes de serem recolhidos. “Eu vejo e já imagino onde cada coisa pode se encaixar”, afirma. Antonio de Menezes leva para casa somente aquilo que pode ser aproveitado.

A Mão Furada pelo Cravo (Foto: Amauri Martineli)

O artista que já enviou obras para Milão, na Itália, usa muita madeira, principalmente eucalipto e sibipiruna, mas jamais cortou sequer um galho pequeno. “Só pego aquilo que foi descartado”, explica o artista plástico. Antonio de Menezes admite que tenta sempre manter uma relação de harmonia com a natureza.

As Bailarinas (Foto: Amauri Martineli)

Entre as esculturas do artista estão “Um Par de Mãos”, “A Mulher Grávida”, “O Homem do Violino”, “O Pé de Pedra”, “O Homem Fracionado”, “O Bandolim”, “As Bailarinas”, “ A Formiga de Osso”, “A Formiga de Galhos” e “A Mão Furada pelo Cravo”. O Pé de Pedra foi a obra mais rápida. Segundo Antonio de Menezes, foi concluída em cinco horas. Já O Homem Fracionado levou dois meses. “Precisei de um bom tempo, só que também nunca trabalhei nele em período integral”, explica.

O Homem Fracionado feito em madeira tem um conceito existencialista, o de que o homem se retalha um sem número de vezes no decorrer da vida, mas que mesmo assim sempre deve predominar a persistência de administrar todas as situações ruins. “Do contrário, o homem morre ou enlouquece”, avalia Antonio de Menezes. Já A Formiga de Galhos foi concebida segurando uma mão com dedo indicador três vezes superior aos demais. Significa que ao ser humano, independente de tamanho – uma metáfora social – não cabe apenas apontar os erros, mas ir além.

Outra peça que desperta muita curiosidade é A Mulher Grávida feita com seis tipos de madeira. É uma simbologia da miscigenação não apenas do brasileiro, mas do homem universalizado. Também se destaca a mão furada por um cravo de onde brota uma orquídea. “Mesmo o homem massacrado, ele ainda germina vida”, comenta o autor.

A Formiga de Galhos (Foto: Amauri Martineli)

Artista vai expor obras na UEM

O artista plástico Antonio de Menezes Barbosa também explora a dualidade humana longe das amarras do maniqueísmo em uma criação bilateral de pedra que apresenta a face de uma ovelha e de um cão; o bem e o mal contido no homem. Há também peças bucólicas como duas mãos se tocando, representando a candura do primeiro amor. Para o artista, importante é dar margem as mais diversas interpretações.

Até hoje, Antonio de Menezes já produziu cerca de 20 esculturas. “Algumas peças refletem o que eu gostaria de ter sido. São idealizações”, declara. Para a produção das esculturas, Barbosa usa faca, serrote, furadeira, broca e uma serra de cortar ferro. “Até improviso, invento ferramentas”, revela, sem deixar de mencionar que já está trabalhando em novas esculturas.

No dia 2 de setembro, 12 obras do artista plástico estarão em exposição no Museu da Bacia do Paraná, na Universidade Estadual de Maringá (UEM). “As peças poderão ser vistas pelo público até o dia 14, das 8h às 11h e das 14h às 17h”, assinala Antonio de Menezes.